Isso
não se trata de onde estamos agora e de quem somos, é questão de cumprir. Você
ao menos se lembra de tudo o que me disse? Das promessas poucas e seguidas de pedidos de confiança? Você me disse que eu deveria ter te dado uma
razão para ficar, mas nem ao menos me deu tempo para respirar e repensar,
apenas foi sem cumprir nada.
Desde
que você se foi, eu me pergunto se tudo o que prometeu foi tão supérfluo a
ponto de que pudesse esquecer ou se foi tão imediato a ponto de simplesmente
jogar tudo para o ar. Pois eu acreditei quando você disse que seríamos
‘para sempre’ e emocionei-me ao ler suas palavras dizendo ‘juntos até o fim’.
Pensando nisso, sinto vontade de gritar, esbravejar palavras de baixo calão,
porque parece que você não entende que este não é o fim! Não, não acabou! Foi
uma pausa, um pormenor... Por menor que foi. Não acabou, pois as promessas
nos acorrentam, prendem nossas almas, nossas vidas e nossos corações, e vamos
continuar juntos enquanto houver o único infinito deste mundo mortal...
Enquanto houver amor. Aliás, isso não é razão para que fique? Estamos acorrentados
por juramentos, e vai lutar tanto pra quebrar uma corrente enquanto pode sorrir,
se sentar e fazer as coisas aconteceram do jeito que sempre foi? Do jeito que
sempre fomos...
Eu continuo aqui, você pode enxergar isto? Meu corpo permanece parado e
taciturno, mas meus sentimentos transbordam aflorados e correm até você, eles
querem te salvar. Eu quero te salvar! Deixe-me invadir seu mundo, como da
primeira vez que conversamos. Lembra? Eu me entrosei de forma que você não
pudesse fugir. Eu confesso, roubei seu coração sem que você pudesse evitar. Não
sei se até hoje você conformou-se com tal fato, mas estarei ligada aos seus
rumos enquanto eu não devolver tal preciosidade. Foi assim, que o motivo
dos meus sorrisos foi apenas o fato da ocorrência dos seus. Essa não foi
uma razão? Eu acreditei que isso realmente importasse.
Ousei a intrigar e confundir seu mundo, mas nem assim cessou a vontade de te amar verdadeiramente. E você... Oras, porque fez tal armadilha com meu
coração? Por que não se decidiu se cuidaria dele duma vez ou se o esmagaria até
que não existissem mais rastros por onde passei amando? Ou até mesmo odiando,
não sei ao certo o quanto esta bomba ambulante que levo aqui dentro aprontou
nessa minha sede de ruar.
Esqueceu-se de como
foi que tudo aconteceu e o que nos prendeu até o que antes era belo? Eu
guardei todas as palavras que me disse para uma último texto. O final não chegou, mas eu tenho que entregar tudo o que tenho. Meus pés
não aguentam mais sustentar todo este peso de saudades, lembranças,
memórias, paixões, amizades que levo aqui dentro. Pega. Leva tudo. Pode
ficar com você. Afinal, minhas razões não foram o suficiente.
Arrumei uma mala, está ali na outrora que vem chegando. Quando você notar a
presença, saberá que é pra pegar e levar pra casa. Mas cuida bem, viu? Eu
aguentei tudo isso calada e sorrindo, eu estivesse tentando consertá-las de
forma que pudéssemos mais uma vez compartilhá-las, e você não deu a mínima.
Agora cuide, pois são meus bens preciosos, alimentei-as com o brilho das
estrelas que observei todas essas noites que nem ao menos pude ler seu ‘oi’.
Pois você não se deu ao luxo de me procurar. Isso é questão de cumprir, lembra?
Não cumpriu, velho amigo.
Flávia Andrade
Texto para a 127ª Edição Musical do Projeto Bloínquês
Nem sempre prometer é algo de cumprir, as vezes o cumprir faz parte de toda uma época, um momento...como aquilo de que o "Eterno as vezes só dura um segundo"
ResponderExcluirAcontece que gente iludida como eu, cria expectativas e acaba esperando que o eterno realmente dure mais que alguns segundos.
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