agosto 29, 2013

Delírio

   Intimamente tenho um sonho. A ilusão de que todo esse turbilhão que chamo de vida tenha sido apenas um pesadelo e que a qualquer instante eu acorde e todo o azar, marés traiçoeiras, temporais de decepções e vendavais de rancores que passei desapareçam. E então minha vida lapidar-se-ia no locus amoenus de um idílio.
   Sonho que de repente, por decreto, seja interditada a entrada de qualquer sentimento maligno para o meu viver saudável e por lei resolvidos todos os problemas e esclarecidas todas as dúvidas. E oras, por que isso não acontece? Por que deve ser tão utópico esse querer? Para quebrar a cara.
  Sim, fecho os olhos e penso em todas as maneiras e caminhos que minha vida tinha para dar certo e ela fez tudo ao contrário. Eu fiz tudo ao contrário. Fui para a esquerda quando o caminho certo estava na direita e quando deveria andar dois passos, regressei quatro. Eu disse sim quando a resposta era não. 
   Preciso de um ar. Tenho em mim a certeza incerta do mundo e a incerteza absoluta do mais ínfimo do universo. Tenho a utopia belíssima e a realidade melancólica. Preciso respirar. Sou um furacão de ideias não concretizadas e levo em meus ombros o peso de umas nove ou dez gerações. Onde se encontra ar nesse inócuo quarto escuro? Estou mesmo em um pesadelo? Deixe-me acreditar então, por um mínimo átimo que sim.

Flávia Andrade

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