Ele é aquela pessoa que se oferece para subir no palco e participar do espetáculo. Eu sou aquela que fica em um canto distante assistindo tudo com o sorriso mais discreto que pode ter. Ele é improviso, eu sou uma interminável preparação. Ele apenas faz, eu apenos planejo, mas com toda essa vontade de sair do lugar, ele invade meus planos, inunda minha mente e coração e me leva junto dele para onde eu nunca iria sozinha. Eu não sei estar no controle, e me pergunto o que posso fazer quando um dia ele se cansar de me levar como carga pesada nos ombros, se perder um pouco a força e precisar de mim para continuar a corrida. E se eu deixar virar caminhada? E se eu deixar virar uma pausa? E se eu deixar tudo sem graça? E se eu deixar ter fim?
Ele é aquela pessoa que não faz essas perguntas mentalmente, enquanto eu penso, repenso e até escrevo. Ele é aquela pessoa lá em cima se divertindo ao máximo pelo show que pagou, eu sou aquela pessoa que foi meio sem querer e quer ir embora antes de acabar. Talvez o show seja nossa vida. E o que duas pessoas vivendo de maneira tão diferente podem fazer tão próximos um do outro? E então eu caio nessa de chorar numa apresentação de humor, e ele está lá no palco vendo uma única pessoa derramando lágrimas, e se ele não quiser descer? E se ele procurar por uma plateia melhor e opitar por esquecer a única que não gostou tanto? E se ele não entender que o problema é todo meu? O caos sou eu, a melancolia é minha.
Eu sou aquela com os olhos intercalados entre o palco e o portão de saída, eu sou a indecisão ambulante no meio da multidão.
— Flávia Andrade
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