abril 13, 2015

A Beleza da Contradição


    Às seis, ela vê nas borbulhas do café dentro da xícara um recado: o cotidiano é poesia. Ela sabe pelo cheiro reconhecível desde à infância, pela cor do país na bebida quente, simplesmente sabe. Talvez deva dar razão à luz matinal que de tão amarelada deixa os olhos muito mais suscetíveis ao que consideram "coisas do coração". Mas às sete da manhã, ele, o outro, prefere um conhaque e não há recado. Há somente aviso: o cotidiano é morte. A vida é pressuposto da morte e continuar tentando não o impede de continuar morrendo. Talvez deva dar razão à ressaca que de tão dolorosa deixa os olhos muito mais suscetíveis ao pessimismo. Às oito, porém, os dois dão as mãos e, prestes a sair, na porta da casa veem: a beleza da contradição. A contradição que tanto é poesia quanto dá ao mundo a certeza de sua morte. Que belo dia, pensam então (um muito irônico e outra simplesmente otimista), para serem felizes para sempre.


Flávia Andrade

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