maio 11, 2015

Novacaine


    É tão fácil pra eu mesma me machucar, um corte no dedo por causa de uma folha de caderno, um corte na vida pra evitar outra decepção, um tropeço num degrau da escada e um tropeço na escolha de um certo alguém. Às vezes até sei que é arriscado, que tenho mais chances de me causar ferimentos do que chances de sair sã e salva, mas ainda assim eu vou, e vou como quem não tem medo, e comprovo que realmente não deveria ter ido: volto com um osso quebrado, com um coração em pedaços. Pedacinhos de pedaços porque estou sempre deixando que o quebrem, porque não sei cuidar bem. Mas até já sei como dá jeito, conheço umas plantas pra passar em feridas que são melhores que qualquer coisa de farmácia e umas sombras de árvores para deitar que são mais válidas que psicólogos. Conheço as medidas que se prepara um remédio e as quantidades de álcool que podem me sanar. Sei como que cura minha febre, dor no estômago e saudade. E depois que curo, volta e meia, os sintomas retornam. Ainda assim persisto, como quem acumula água parada para pegar dengue, como quem sabe de cor os sintomas da doença do ano, como quem todo dia sofre de um transtorno diferente. É tão fácil que as dores nem duram tanto mais, que estou quase em estado contínuo de anestesia. Quando chegar, então, avisa que a intenções são boas pra eu me preparar para bons sentimentos e dar um aquietada nas defesas.

Flávia Andrade

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