julho 18, 2015

Aquele des(caso)


    Sentia que ele me confortava como se eu fosse a única pessoa no mundo precisando daquela atenção. Ao mesmo tempo, ele respondia a todas as mensagens de tantas outras pessoas somente com as frases feitas que sabia de cor. Eu gostava de quando me ouvia com uma paciência de quem parecia gostar tanto a ponto de suportar. Contudo, ele me ouvia calculando o momento exato em que pudesse fugir do assunto incômodo. Estávamos no mesmo ambiente, mas com mentes focadas em outros mundos, emoções enganadas e almas dispersas. Éramos dois estranhos: um que corria em busca de outro que não existia. Mas ele me fazia bem. Eu sorria no caminho para lugares tediosos por qualquer coisa que ele costumava dizer para me convencer a ir. Eu sorria quando nada parecia dar certo porque ele dizia que viria me visitar para melhorar o dia. Não era sempre que aparecia por aqui, mas a expectativa me salvava por algumas horas. Eu sorria quando ninguém mais se importava, porque ele continuava dizendo que sempre estaria por perto. Mas ele também dizia por aí que eu andava muito dependente, precisando me estabilizar em qualquer outro alguém, dizia que precisava me deixar para trás antes que mais meses se passassem. Começou a ser menos do que eu pensei que fosse, até o ponto em que não era mais quem eu conheci. Eu fiquei com as lembranças boas, ele nunca teve nenhuma. Guardei as palavras bonitas, ele já havia se cansado delas há tempos. Metade de nós acreditava, outra metade apenas mentia.

Flávia Andrade

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