julho 10, 2015

Corrida


    Ele corre observando o nada da paisagem verde e azul, grama e céu a sua frente, enquanto pensa no nada de sua vida azul por inteiro. Azul escuro e oceânico. Ele está morrendo de coisas inofensivas e por armas brancas, quase transparentes, mas corre para se sentir vivo. É clichê. Corre com os braços próximos ao corpo, dobrados, punhos fechados e boca semiaberta enquanto respira o ar poluído de seus planos que falharam e o rodeiam, planos contaminados de maus pensamentos. A cabeça não se mexe, o pescoço está enrijecido com veias quase saltando porque os pés estão doloridos e a dor o toma por inteiro. O desgaste do tênis provoca a sensação de estar pisando descalço na rua suja. Sensação. Ele tem vivido de sensações. Parece sempre estar perdendo algo que nem ao menos teve, perdendo quem prometeu ficar pela eternidade, deixando para trás aquilo que traz pregado no corpo. Sente como se estivesse se afogando no mar de água salgada toda vez que entra debaixo do chuveiro e não se acalma. E, às vezes, parece que sua pele queima. Sente como se estivesse sufocando quando se cobre no frio, quando usa cinto e camisa de botões.
Ele para.
Ele acende um cigarro.
Ele deita no meio da estrada e fuma. A vida está perdida.

Flávia Andrade

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