agosto 11, 2015

A guria das artérias folks

    Cabelos escuros sem cor definida acostumados a ser presos no alto da cabeça que sempre doía, por enxaqueca ou ressaca. Olhos que buscavam os detalhes emocionais e não enxergavam nada de material à primeira vista. Boca que se movia pouco durante o dia e se mantinha fechada enquanto todas as palavras corriam desesperadas pela mente. Fígado desgastado, pulmão meio ruim, coração com peças faltando, perdidas, peças que o serviço especial de consertos humanos não tinham no estoque. A guria em pé no ônibus não se vestia tão bem, não tinha ritmo na voz e não deu ouvidos a quem tentou corrigir sua postura. Porque os ouvidos só notavam, quando ela ainda tinha jeito de mudar, Bob Dylan e Neil Young
    Por que é que alguém foi dizer que gostava daquilo tudo? Depois que disse, ela quis mudar a cor do cabelo, quis olhar quantas cadeiras vazias restavam nos locais, quis falar sobre o que não sabia. Mas os pedaços defeituosos de dentro ainda estavam lá, sem remendos, sem cola, sem costura, sem novas instalações. Quando um certo alguém disse que gostava dela, não enxergou as músicas folks que percorriam suas artérias. E quando descobriu, não quis ficar.
     Ela era um pequeno erro por fora, um caos por dentro e uma noite de distúrbio que durava o tempo inteiro. Se estragou um pouco mais por uma pessoa só que viajou por todo seu corpo até encontrar seus caminhos sem saída. Quebrou mais algumas peças, apresentou mais falhas e não aceitou cura nenhuma depois que aquele do quis-e-largou foi embora.
    Por que é que alguém foi dizer que gostava daquilo tudo? Antes, ainda sabia viver um pouquinho bem, não queria se trocar por uma nova geração.

Flávia Andrade

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