agosto 05, 2015

A Magia do Beco

    Eu peço sempre um pouco mais daquilo que não encontro em qualquer lugar, e quando ganho (quase nunca ganho) recolho aos meus braços e corro sem pensar, como se fosse se dissolver sobre mim. Me prendo ao que não poderá ser meu por mais de algumas horas. Por essa razão me apaixono em todo canto que desconheço e não sei visitar quando quiser. Amo todo ambiente que piso sem querer e quando vou embora não lembro mais qual era. Idolatro toda substância que causa um primeiro efeito no meu corpo e busco piores. Na contramão do que quero, espero cada vez menos pelas coisas que o mundo inteiro já tem. Quando caem no meu colo (porque todas essas coisas aparecem facilmente), jogo ao chão e deixo quebrar. Ou rasgo, ou mordo, ou queimo. Porque me adequo somente ao que está fora do meu alcance: aos sonhos distantes de um inconsciente conturbado.
    No Beco, enquanto ando, rodo, corro e grito, me perco para que, de alguma maneira, eu possa saciar todos os meus desejos que ninguém mais pode. Sei que no Beco há um pouco de pó mágico ou coisa que o valha que nos deixa mais próximos do que uma vida toda fora dele não pode proporcionar. Nem que tenhamos dinheiro, casa, carro, marido e filhos. Nem que estejamos nas revistas, na televisão, na rádio ou no The New York Times. Nem que o Dono do Bar garanta bebida free até o fim do ano. O Beco Bêbado provoca sensações por si só, como um ser maior, então eu arranho meus braços nos muros e deixo doer, deixo arder. Aqui, no fim do universo atrás do bar, no escuro tóxico, eu me recomponho de tudo o que me foi tirado, arrancado, rejeitado.

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