agosto 16, 2015

Escrito à mão

    A minha lista de compras escrevi no bloco de notas do celular, apressada, precisando de algo prático. Os desejos me deram preguiça de serem escritos, então só sublinhei palavras em revistas com caneta vermelha e estão lá, quase perdidos. Os livros foram sequências enormes de tec, tec, tec no teclado do computador. Os textos nem foram escritos, brotaram por aqui buscando olhos que pudessem lê-los. Mas você, e só você, foi escrito à mão. Nos cadernos velhos, nas mesas já rabiscadas, nas paredes descascadas, na porta do guarda-roupa novo, nos muros vandalizados, só teve você. Versos, e frases, e gritos escritos, tudo sobre seus detalhes tão nossos dentro de garranchos neuróticos. Então não me diga para apagar ou esquecer, não me diga que vai ficar para trás. Minha mão direita fez todos aqueles contornos cansativos para dizer o que nunca poderia ser dito a ninguém. Eu disse, eu disse e repeti. Estarão, todas as palavras, gravadas ainda que queimem os cadernos, limpem as mesas, pintem as paredes e os muros e toda matéria. Você fica, eu fico, a memória fica, não tem mais jeito de jeito nenhum. Perdoa, você foi escrito à mão.

Flávia Andrade

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