agosto 24, 2015

Incômodo

    Deixa o prato em cima da pia, fecha o livro, desliga a tevê. Veste a roupa, bota o tênis e me pergunta como é que se diz cadarço. Anda até a porta, lembra da chave depois e questiona: você não vem? Eu até que vou. Até que. Não é certeza. Pede pra eu aproveitar e levar a chave. Que que tem de proveitoso? Quer saber se vi a notícia no jornal, diz que é bizarra, mas eu desconheço seu conceito de bizarro. Então me convida pra sair na noite do dia doze. É o que você faz, certo? Fica aqui do lado puxando assuntos que só duram trinta segundos, um atrás do outro, até que eu canse ou você precise beber. A janta estava boa, não estava? Sim, e o prato ficou na pia, quem vai lavar? Conta sobre você, mas te conheci em meia hora de conversa na semana passada, não preciso ouvir mais histórias. São as mesmas, com a mesma pessoa, mesmo pensamento e eu continuo não gostando. Mas venho quando chama e fico quando implora e respondo quando pergunta e ligo quando some e não sei estar tão longe. Ouço, ouço e ouço, quando vai parar? Fico querendo sair daqui a cada momento em que a hora não passa. Enlouqueço como ponteiros desregulados em um tempo parado. Te olho como quem quer estar e não suporta, como quem quis que fosse melhor e não foi o culpado. Sinto muito, a noite é pouquíssima para dois e vou seguir sozinha. Vê se lava o prato, por favor.
Flávia Andrade

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