agosto 13, 2015

Você, álcool e escrita

    Pra escrever sobre você preciso tomar litros de água, como quando acordo de ressaca na segunda-feira. Depois que escrevo sobre você preciso de álcool, como quando quero me curar de ressaca logo no sábado. Você me deixa com o coração batucando, pernas bambeando, como se no meio da dor eu pudesse sambar. Me deixa entre o gosto quente da bebida e o gosto amargo do vômito, mas busco mesmo pelo seu próprio gosto toda vez que saio de casa em busca de alguém. Procuro seu cheiro em toda camisa sem perfume, procuro seu riso em todo lugar quase sem barulho, busco um tanto de você que não está mais aqui. Porque depois que me deixa assim, embriagada, vai embora e eu que me cure. Eu te digo, então, enquanto grudo em você pra dançar no canto do bar: não me curo com reza, com insistência, com tempo. Eu me curo com você, um porre após o outro. Uma bebedeira na montanha-russa, um grito no chão. Pra escrever sobre você tomo tudo o que há em casa: água, vinho, cerveja, azeite, seja o que for. Mas pra te encontrar, só se eu tomar uns goles de coragem, e isso só encontro nos seus bolsos.

Flávia Andrade

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