Foi em um dia de sol, no qual o sol parecia
desenhado e pintado com lápis de colorir amarelo: estava ali só de enfeite e
não queimava, foi num dia desses que aquela menina nasceu. Sem dentes, embora
já soubessem que logo que aparecessem também iriam amarelar. Ela nasceu felina,
feito gato: ficou pouco com a mãe e logo foi largada no mundo. Não teve dono
também.
A menina ficou ali precisando de leite, mas
só tinha sete vidas persistentes e vento nenhum, chuva nenhuma a fez se perder
dela mesma. Suportou todos os traços coloridos de alguém bondoso que ainda se
dava ao trabalho de pintar um céu inteiro para ela e, vez ou outra, coloria uns
carros na cidade que tinham barulho só de papel amassando na mochila no meio
dos cadernos.
A menina nasceu no ar, tão abandonada e sem
atenção que quase virou bolinha arremessada na lixeira do canto da sala de aula
para crianças. Mas era sortuda, tão sortuda que foi esquecida na mesa mais limpinha
e lá teve oportunidade de sentir o cheiro da merenda e o passar dos dias.
Tinha olhos pregados pra direção exata de
olhar pra fora e enxergar o universo no qual não poderia estar, mas, de alguma
forma, vinha de lá realmente.
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