dezembro 17, 2015

Guria de papel

    Foi em um dia de sol, no qual o sol parecia desenhado e pintado com lápis de colorir amarelo: estava ali só de enfeite e não queimava, foi num dia desses que aquela menina nasceu. Sem dentes, embora já soubessem que logo que aparecessem também iriam amarelar. Ela nasceu felina, feito gato: ficou pouco com a mãe e logo foi largada no mundo. Não teve dono também.
    A menina ficou ali precisando de leite, mas só tinha sete vidas persistentes e vento nenhum, chuva nenhuma a fez se perder dela mesma. Suportou todos os traços coloridos de alguém bondoso que ainda se dava ao trabalho de pintar um céu inteiro para ela e, vez ou outra, coloria uns carros na cidade que tinham barulho só de papel amassando na mochila no meio dos cadernos.
    A menina nasceu no ar, tão abandonada e sem atenção que quase virou bolinha arremessada na lixeira do canto da sala de aula para crianças. Mas era sortuda, tão sortuda que foi esquecida na mesa mais limpinha e lá teve oportunidade de sentir o cheiro da merenda e o passar dos dias.
    Tinha olhos pregados pra direção exata de olhar pra fora e enxergar o universo no qual não poderia estar, mas, de alguma forma, vinha de lá realmente. 

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