agosto 11, 2016

Não sou aquela que conheceu, sou mudança diária

    Quando me conheceu com esses seus olhos otimistas viu em mim somente as partes boas; você gostou do meu sorriso pelo olhar semicerrado e não pelos dentes tortos, e escolheu gostar do trançado do meu cabelo sem conhecer seus embaraços de todas as manhãs. Eu juro que sou de outro jeito sob iluminações mais fortes e te faço desacreditar de tudo num segundo. Naquele dia quis gostar de mim pelo meu jeito amigável depois de seis cervejas, não pelo jeito triste que fico aos domingos. Viu apenas quem eu era numa sexta-feira à noite, dentro do meu vestido preto preferido e por trás da maquiagem feita às pressas com alguma fé. Me achou bonita sem saber como me vejo no espelho.

    Nos outros dias eu não sou tão boa assim. Eu sorrio menos, não faço sempre aquelas piadas, e antes que você queira mais daquela que conheceu, aviso: tenho timidez demais para me reapresentar.

    Eu te conheci no meio de uma embriaguez e rodava o mundo todo com os olhos até te perceber por perto, agora tenho noites e dias divididos entre como eu era antes e depois de você. Daquele momento em diante eu quis ser a pessoa exata que enxergou em mim: feita de risos, danças, voz alta e humor ácido. Nem quis mais escrever.

    Mas não posso ser aquela de sexta-feira o ano inteiro, nem quero ser aquela da primeira vista em todos os dias de encontro. Estou longe de me refazer de novo e de novo, já aceitei a condição de ser quem me construí na própria vida, decisão após decisão.

    Quando me conheceu com seus olhos otimistas, negando meu pessimismo que nem esperava te ver de novo, anotou meu número e quis me visitar depois. De tanto encanto seu, adiei com desculpas para não me tornar decepção imediata. Por agora, essa quem te recebe à porta é outra, é nova, e quer se mostrar verdadeira com todas as contradições de ser tanto dona de si quanto perdida demais para se aceitar de um jeito só.

    Se for ficar, traga mais um pouco daquela pra mim, daquela que conheceu e que ficou em você com algum cheiro de cerveja, com o acordo de me deixar te trazer mais um pouco dessa, essa que é mais completa, mais inteira e mais real — e pode sair para dançar também.

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