Ela cresceu
como o azul do céu vai escurecendo a cada centímetro durante o dia, assim como
toda aquela dimensão disfarçava-se entre nuvens, ela sabia como fazer suas
mudanças não serem notadas, até atingir o ponto mais alto e mais
escuro, no caso dela, o ponto mais forte. Eu não poderia descrever, nem soube
também o fazer, mas conto-lhe que ela modelou-se como Deus modela suas nuvens, fez-se assim uma menina pequena, assim
como nuvens na visão de uma criança parecer algodão - doce -, ela elaborou sua
aparência inocente, mas tornou-se gigante, confiante, guerreira e sábia no
coração. Ela brilhou como o sol iluminando a rua depois da chuva, discreto, mas
ninguém poderia parar e fez surgir o arco íris, admirado por qualquer coração
de pedra que apenas soubesse apertar um pouquinho mais os olhos para conseguir
enxergar tal beleza extrema.
Mas depois sempre veio a noite... Ela alterava-se em todos os momentos em que
precisava lidar com o mundo. Assim como o doce céu que ela observava e
inspirava-se a no mesmo balanço, viver. Nunca se esqueceu de brilhar, mesmo
quando a escuridão reinava. A lua lhe contou este segredo, o brilho
destacava-se na noite e era nela que a magia deveria acontecer. Então, a garota
guardava seus sorrisos singelos, suas gargalhadas estonteantes e o olhar
encantador para as noites. Era maravilhoso de se ver, ela aprendeu com o céu, a
surpreender. Certa vez, ela contou a uma menininha que observava as estrelas no
parque uma de suas aventuras: "Com um impulso que durou um átimo, eu caí em
queda livre, e enquanto caía, o aperto no coração foi sumindo, e só pela
liberdade da queda, aquela ação já tinha valido a pena." Foi como
chover... E completou dizendo "Você tem que surpreender a si mesma, não
pode esperar que os outros apreciem e nem que se admirem, pois tudo o que você
faz tem que agradar primeiramente e unicamente a você mesma."
Com essa teoria, ela sabia que ninguém nunca poderia esperar algo, ninguém
nunca deveria saber se no íntimo daquela alma era inverno ou verão, ela
surpreendia as pessoas a sua volta com o inevitável. Assim como dormir depois
de um dia ensolarado e brilhante e acordar com um dia de tempestades e
vendavais. Ela foi uma aspirante a princesa, uma pequena nuvenzinha modelada
perfeitamente, uma garotinha gigante no coração. E aprendeu com o maior mestre
de todos a viver e concluiu que o céu é escola para quem sabe aprender, ou apenas sutilmente observar.
Texto para a 122ª Edição Conto/História do Projeto Bloínquês.
Flávia Andrade