julho 14, 2013

meu shrek

comprarei um fusca azul
o nome dele será shrek
me chamarão de daltônica
e eu sorrirei chamando-os de cegos
pois meu banco será verde
e também minha inspiração

nesse banco escreverei poesias
que julgarão desrespeitosas à literatura brasileira
mas eu sorrirei chamando-os de cegos
pois no banco terá a explicação
(do escrito que não teve sentido)
e também a inspiração

escreverei a pior poesia
com o melhor sentimento
pois estarei sentada no melhor banco
sendo a pessoa do pior discernimento

Flávia Andrade

julho 13, 2013

Dores (quase) sedentárias

Têm livre arbítrio minhas dores
mas se fixam em meu coração
ás vezes acho que morreram de comoção
contudo são apenas rumores

Mas não dê asas! São como imaginação

Se acaso cutucadas com vara curta
se expandem rápidas feito furacão
clareiam como um relâmpago de permuta
entre o raio e o trovão

Flávia Andrade

Paradoxalmente: sozinha comigo

Amo essa solidão concomitamente a odeio
conquanto paradoxo a ela é tão cabível
assim sendo uma pacificidade sofrível
e ao me tornar fria a incendeio

Flávia Andrade

Contorno preenchido (A Sombra)

O acinzentado sol que fito agora
(outros por lua chamam sem demora)
é mais nada que alguma sobra
(antes denominada negra sombra)
- mas se é resto é penumbra -
de cada lágrima que você chora

Flávia Andrade

A poesia já passou

É tarde para tentar compreender
cedo e morno para amar estes versos
o fato de outra folha não haver
inclina cá meus reais pesadelos complexos
que atinam até algum olho arder
por ler palavras tão bruscas como manifesto
e premissas que não se deixam ceder

Flávia Andrade

julho 12, 2013

Tem dias que acordo tão sentimental
que temo meu amor ser banal
essa coisa de gente sofrer por amor
ser tão profundo e esquecer o carnal
de levar na bagagem o rancor
e ter resquícios de um amor de jornal

Amor de prosa e poesia
de gente que ama sem dizer
que não preenche vida vazia
amor sem dono e sem coleira
amor sem seus ossos e ração

Amor que não passa de ilusão
por parte de um platônico apaixonado
que se finda em imaginação
em memórias de um passado inventado

Flávia Andrade

Melancolicamente só

   Em minhas retinas as cenas de pessoas especiais indo embora são costumeiras, e quiçá, normais e abundantes. Minha voz grita pela solidão, mas meu coração se aquece somente quando alguém está por perto. Me agito e me irrito quando sou tocada, mas meus pés descalços e minhas mãos se enlaçam para um abraço, tarde demais. Todos já se foram, amigos e família, estou sozinha em um abismo de decepções. Só minhas. Antes eu tinha meus amigos, meus pais, meus primos, meus avós. Eram todos meus. Agora as únicas pessoas que possuo são minhas infelicidades e saudades que criaram vida de tão imensas que estavam.

Flávia Andrade

julho 10, 2013

atrizes belas

Na noite infinda
a lua mais que linda
infinita
me fita

e as estrelas
como velas acesas
atentas,
refletem-nas
em mim diversas,

os esdrúxulos
relaxados
poemas que escrevo
distraídos
dispersos
devaneios
se tornam belos,

somente nesse
infinito plano
iluminado por lua 
e estrelas

que no céu 
são luminárias
na minha janela 
são artistas
de cinema americano

Flávia Andrade

julho 08, 2013

des(espero)

Será? Ser-à. Ser-ar.
Terá? Ter-à. Ter-ar
Solidão taciturna
dúvida nebulosa
não sei quem eu sou
não sei nem o que tenho
para levar nessa bagagem
nesse leve desempenho
mas não levo desvantagem
quero ventagem, quero vendaval

Flávia Andrade

nata(ção)sou

Nado nesse mar de vida
vivo nesse nada nadando
esse nothing
esse rien
esse nichts
esse swim
esse nage
esse schwimme
não sou nada se nado
não nado se não sou nada
vou nadando sem nado
vou nadando e sou nada
ou não sei nadar
ou não sou nada
sou ou sei radar
com ou sem radar

Flávia Andrade


prefiro lavá-las

tem dias que até a cortina me faz chorar
e esses dias são tão novos que me fazem repensar
porque ainda tenho cortinas brancas em todo canto da casa
talvez eu as deva vender como vestido para a noiva que casa
talvez eu deva vender meu coração pro noivo que se desgraça
vender meus CDs de sad songs para a dama de honra devassa
ou doar para um mendigo de graça

porém ainda gosto do balanço das cortinas
quando mantenho os tecidos brancos abertos
mas abro as janelas
e o vento os levam dispersos
para frente em direção ao meu corpo submerso
em melancolias

talvez eu apenas precise dar um banho
nessas cortinas amareladas antes brancas
e comprar um vaso de flores brandas

Flávia Andrade

pouco e infinito

a mão pinga colírio nos meus olhos
o céu pinga estrelas no meu olhar
a lâmpada clareia minha visão
o sol acende minha emoção

Flávia Andrade

amanhecer

de repente o dia vem
antes que eu pudesse adormecer
de repente o dia mente
o sol que a nuvem queria esconder

Flávia Andrade

sol que voa

ver borboletas
belas amarelas
me dá esperança
de paz, de dia novo
de sol que vem me visitar
com asas e cores
que meus olhos
podem enxergar

Flávia Andrade

sobremesa solitária

tem leite derramado
na mesa
porque não sei servir

tem rosto fechado
na mesa
porque não sei sorrir

tem história incoesa
na mesa
porque não sei mentir

tem pouca gentileza
na mesa
porque não sei assentir

não tem nada além de silêncio
na mesa
só eu continuo aqui

Flávia Andrade

julho 03, 2013

Sorria

Desejo que as borboletas
para a palma de sua mão
voem de minhas palavras

Desejo que a brisa lhe invada
como uma antiga canção
como o doce toque de uma fada

Convido os anjos serafins, 
quero o locus amoenus
de literatura e jardins

todos dançando em sua alma
como dançam os lírios
que me preenchem de calma

Desejo somente
um pouco de mim
que faça bem a você

Flávia Andrade

julho 02, 2013

Escritorinha

   Tão jovem se perdeu nas entrelinhas de seus costumeiros poemas e não mais se encontrou. Tão nova e já presa em vírgulas e reticências e nunca mais pôs ponto final. Proseava em versos, vivia em estrofes, sorria em palavras. Outrora chorava em algum meio e calculava suas metrificações. Repugnava a ignorância, mas adorava a desconfiança. E assim seguia os dias, quatro ou cinco linhas e uma queda para outro abismo de inspiração. Às vezes devaneio, às vezes atenção.

Flávia Andrade

Destinados

   Qualquer hora dessas encontro você por aí, seja no bar da esquina ou na velha rua que andávamos. Quem sabe um dia a gente se tropeça e caio em você novamente, me derrubo no teu jogo e teu corpo. Te encontro por ali e a gente se resolve e se complica, como sempre seremos uma discrepância não questionada. Não fique esperando, não programe encontro, deixa acontecer. Não me cerque com esses olhos de quem sabe o que vê e o que quer enxergar, me olhe confuso e curioso. Deixa ser como será. Encontro você por aí, em uma sala de cinema ou no karaokê da Rua Brilhante. Pode ser na casa de show que você tocava. Quem sabe um dia a gente se empurra e se amarra e me prendo a você, às tuas palavras e cantadas baratas. Assim revivemos algum filme dos 80 e seremos só nós dois como o amor de Lisbela e o caminhoneiro. Vamos nos danar por estrada mundo afora, meio bêbados, meio loucos, como em uma música do Aerosmith ou John Mayer. Podemos pegar nosso caminho para o inferno ou ao céu, como bem decidir. Se eu te encontro, divide teu fone comigo, encaixa tua música na minha.
   Encontro você por aí, pois alma solta que tem destino traçado sempre se embola e se enrosca com quem foi feito para ser e pertencer a um só.

Flávia Andrade

Diga-me o que?

Há algo errado, exagerado
não o frio no peito
nem o coração congelado
Há algo errado, exasperado
não a brasa no seio.
Será meu amor?

Flávia Andrade

Aqui está

Guardei você
no retrato apagado
na chama acesa
no sofá rasgado
na mancha na mesa
no sonho desfocado
na história incoesa
no passado recordado
na velha surpresa
no futuro inesperado
na série inglesa
no presente formulado
colori você
em obra pseudo Monet

Flávia Andrade

Sem voltas

Quero lhe contar 
que o passado se deixou passar 
profundamente, 
não lhe retomo 
as palavras escritas 
e quem dirá 
as palavras ditas, 
quem dirá? 
Foi sucinto quando passou, 
apenas foi o fim. 

Flávia Andrade
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