agosto 30, 2015

Imagina

    Imagina se não volto pra você outra vez, se deixo que realmente tudo se acabe. Imagina se minha vida muda amanhã, se canso de ser assim hoje, se digo adeus pra mim e pra você. Imagina se a partir de semana que vem o ano dá reviravoltas, se a gente para de se encontrar, se você percebe que sei andar sozinha. Imagina se seu telefone para de tocar, se não apareço mais na sua casa, se esses nossos dias quase bons ficam para trás. Imagina se eu deixo de sonhar, se acordo pra realidade dura de se viver, se aceito e começo a me acertar. Imagina se você deixa de fazer parte do que sou enquanto sigo sem olhar pra trás, sem querer mais nada de quem foi me tirando tudo. Imagina se é tudo verdade e não dá mais tempo de inventar uma nova desculpa, imagina se já foi.
Flávia Andrade

agosto 27, 2015

Mochileiros II

    Vamos vender gritos. Estridentes, roucos, cansativos, longos, assustados ou silenciosos. O Grito fez sucesso, não fez? Vamos vender poesias improvisadas. De amor ou escárnio, amizade ou prazer, realidade ou ficção. Poesia para quem está só, para quem casou, para quem não receberá rima de mais ninguém. O rap faz sucesso, não faz? Vamos vender nossos livros escritos, nossas roupas sociais, nossos sonhos vagos. Vamos vender os planos que não deram certo e os contatos dos desgraçados que atrapalharam. Vamos alugar uma beira de estrada de pedir carona, uma sombra de árvore, horas de histórias narradas. Vamos vender nossa vida antiga, o endereço e o telefone, o pagamento desses vai para a família. Vamos ganhar uma grana com a vida simples: acender fogueira e fazer comida para quem não trouxe nada na mochila. Sejamos, aliás, mochilas vazias meio cheias: não pesam tanto, mas trazem muito. Vamos ser melhores que os sentimentos atuais e piores que aquilo que esperam de nós. Vamos fugir das rotas, das linhas vermelhas e dos trilhos. Vamos evitar caminhos retos, mas não andemos em círculos ou passemos por muitas rotatórias. Vamos ser reais com a cara de frente ao vento, e zero reais no bolso. Um conto para contar, nenhum conto para os gastos. Vamos destruir o que nos prende, pois não estamos em gaiolas, estamos em jaulas. Somos maiores que pássaros cantarolantes e podemos ir mais além.

Flavia Andrade

agosto 26, 2015

O Trapo na Lixeira

    Minhas mãos estão sujas cavucando os sacos pretos dentro da grande lixeira. Meu corpo está quase todo inclinado para dentro, quase me fazendo afogar num mar de bactérias com cheiro de bicho morto. Perdi alguma coisa que não sei o que é, e estou procurando a essa altura da noite aqui no Beco. Procurando como se fosse fácil encontrar, ainda mais dentro da lataria enferrujada.
    O cara que sempre está onde eu estou aparece. Como de costume, como de praxe, como é feitio de viciado. Ele me pergunta se quero ajuda e mando-o se foder. Ao contrário da minha oferta imperativa, ele adentra a lata. Vejo-o se sujar rapidamente, se transformar num cão imundo.

— O que você quer aqui dentro?

    Ainda tem a coragem de me perguntar. O que eu quero? Francamente? Que ali pra baixo tenha uma passagem para o inferno e que ele vá, sem pensar duas vezes.

— Estou tentando ajudar. Está procurando o que? — Ele insiste.

    Mas que merda. Estou procurando minha reputação, minha vergonha na cara, os óculos que usei até os onze anos, todos os convites que já recusei nessa vida, o número de telefone de alguns caras que me fazem falta, meu currículo, qualquer garrafa de qualquer bebida. Estou procurando o que fazer, o que pensar, o que dizer, o que agir, uma solução. Estou procurando toda merda não pegajosa que possa estar aí dentro e seja útil pra mim.

— Não é nada. — Respondo. — Só estava mexendo.

    Ele sai da lixeira puto da vida, como se fosse culpa minha todo o acontecimento. Olhando naqueles olhos até encontro razão e admito que o que ocorreu foi consequência dos meus atos, então, para me redimir ofereço algo melhor:

— Uma cerveja. Vou comprar no Cão Andaluz e trago aqui pra nós. Você me espera?

— Espero. — Sua voz está calma novamente.

    Dou mais alguns passos.

— Nós vamos virar a cerveja e fingir que a vida se resolveu, certo?

— Certo.

    Paro e olho para ele.

—Vamos destruir nossas gargantas com cerveja gelada e congelar nossos corações com pessoas destruídas.

— Vamos.

    Dou risada. Talvez fosse ele quem eu estivesse precisando encontrar na lixeira. Alguém usado, quase um trapo, que soubesse me fazer sentir melhor.

Invisível

    Não sei se existo ainda, ou se só sou saudade e fome. Ofereceram um brinde a mim no bar, mas eu nem soube chegar em casa. Não sei se aquele cara dos olhos semicerrados deixou alguma parte do que eu era para sobreviver, ou se levou para jogar na lixeira mais distante. Me desejaram parabéns, eu nem sei se meu aniversário já chegou. Vivo como barata: fugindo de quem é maior, tendo má aparência, fingindo que sei voar. O som do meu R, o som do meu L, o som do nome dele escapando da minha boca. Os sons escapam, correm as paredes durante a noite e quando eu saio do quarto todos sabem em quem estive pensando. Não sei se ainda vivo, se sou só um sentimento corrompido, se é possível, ao menos, me enxergar. Não sei se estou aqui ou se já perdi as estribeiras, as barreiras, as coordenadas. Não sei se apenas não me vejo ou se sumi como nuvem de fumaça tragada, sendo resto daquilo que prejudicou bem dentro do corpo.
 Flávia Andrade

agosto 25, 2015

Fim do ano

 Sabe quando o ano acaba?
 31 de dezembro.
 Isso eu sei, mas, quero saber quando exatamente. Quando você já tiver ido embora e eu estiver sentindo sua falta? Quando o jantar ficar pronto e ninguém aparecer? Quando eu começar a olhar as fotos de um ano inteiro que só fingiu ser bom? Porque você pode dizer também que não é bem assim, então me animo mais um pouco. Calma, não responde ainda. Espero que seja quando eu abrir a porta e te ver do lado de fora, que é pra ver um novo ano iniciar ao mesmo tempo em que te verei entrar em casa pronto pra ficar mais tempo por aqui, do meu lado. Quando é muito relativo, não acha? Quando, pra você, é 31 de dezembro. Pra mim é uma emoção forte: saudade ou felicidade. Não é querendo te pressionar, mas já passei muitas viradas sentindo falta de alguém. Até peguei um rancorzinho de roupa branca, sabe? Ainda que eu tente pensar positivo: quando for pra ser, será. Você se encaixa nesse quando? Nesse que é pra ser? Se não for, nem responda, vai acabar acontecendo. Ou desacontecendo, entende? Parece uma piada. Desculpa, sei que nem setembro chegou, imagina dezembro. Mas pensa direitinho no quando que a gente vai ser no fim. Porque um quando acontece logo agora e a gente não percebe.
Flávia Andrade

agosto 24, 2015

Incômodo

    Deixa o prato em cima da pia, fecha o livro, desliga a tevê. Veste a roupa, bota o tênis e me pergunta como é que se diz cadarço. Anda até a porta, lembra da chave depois e questiona: você não vem? Eu até que vou. Até que. Não é certeza. Pede pra eu aproveitar e levar a chave. Que que tem de proveitoso? Quer saber se vi a notícia no jornal, diz que é bizarra, mas eu desconheço seu conceito de bizarro. Então me convida pra sair na noite do dia doze. É o que você faz, certo? Fica aqui do lado puxando assuntos que só duram trinta segundos, um atrás do outro, até que eu canse ou você precise beber. A janta estava boa, não estava? Sim, e o prato ficou na pia, quem vai lavar? Conta sobre você, mas te conheci em meia hora de conversa na semana passada, não preciso ouvir mais histórias. São as mesmas, com a mesma pessoa, mesmo pensamento e eu continuo não gostando. Mas venho quando chama e fico quando implora e respondo quando pergunta e ligo quando some e não sei estar tão longe. Ouço, ouço e ouço, quando vai parar? Fico querendo sair daqui a cada momento em que a hora não passa. Enlouqueço como ponteiros desregulados em um tempo parado. Te olho como quem quer estar e não suporta, como quem quis que fosse melhor e não foi o culpado. Sinto muito, a noite é pouquíssima para dois e vou seguir sozinha. Vê se lava o prato, por favor.
Flávia Andrade

Um ano

     Quanto tempo faz? Digo, que não vem aqui por mim. Sei que vem pelos outros e torce, de dedos descruzados, pra não me ver. Suspira aliviado pelo meu lugar vazio e dá meia volta quando me encontra. Faz tanto tempo que não te vejo além desse corpo transeunte, sendo um andarilho que tem casa, que sai e fecha bem as portas. Andando pedra a pedra, de bar em bar, em templo nublado ou de sol, com o mesmo passo firme e o olhar fugitivo. Já é comum se perco os óculos, as chaves, o celular, seu número, as chances, as vergonhas, seus olhares. É comum se não esqueço, mas faz parte deixar de lembrar de um dia ou outro. É uma nova rotina, e a vida que tínhamos fica para trás enquanto o tempo corre sem futuro e te deixa caminhar lentamente. A vida que tínhamos guardo comigo ainda parada no mesmo lugar. Somos presente, um presente sem embrulho, rasgado e deixado, trocado por melhores. Um presente desajustado da ação, um verbo mal conjugado. Quanto tempo faz? É um novo fim de agosto
Flávia Andrade

Prosa e poesia

    Sua poesia tem tom errado, não faz sentido, só é bonita como são as minhas frases pra você. Sua poesia é para os desesperados, seu canto é pra acalmá-los e eu escrevo, escrevo sem pensar alto, escrevo o que você me causa. De toda forma, tudo é verso, ainda que só pareça paisagem. De todo jeito, é sobre você e sobre mim, sobre dois esquecidos em corações nostálgicos. Se você faz estrofe e eu faço parágrafos, se a gente inverte e inova, se tudo vira livro ou folha amassada no lixo, a mensagem já nos alcançou: é amor. Um de lá e um de cá, um tem rimas e outro não, um canta as músicas conhecidas e outro canta o que ninguém nunca ouviu: somos nós nos amando. Risca todas as linhas que eu borro todas as páginas, porque frente a frente a gente não diz nada: é só isso, só o que precisamos.
 Flávia Andrade

Sonhos vagos

    Eu era a pessoa dos sonhos vagos: tão grandes a ponto de não se realizarem ou tão pequenos a ponto de serem esquecidos. Era somente uma sombra afastada fora da sombra enorme de várias pessoas unidas num sol quente. Eu era deixada de lado nos planos alheios, mas você apareceu. Me pôs no seu plano maior: ser feliz. Quis que eu fosse parte dessa coisa toda de sorrir sem lembrar de que dia é, e eu fui. Fui atrás pra te arrancar risos até quando os olhos choviam mais que o céu. De um sonho minúsculo meu, você se tornou um sonho enorme, tão maravilhoso que não coube em textos, em diálogos, nem dentro de casa. Um sonho que nem se eu dividisse entre mochilas vazias iria por completo comigo até o destino. Desculpa, por ter te feito tão significativo assim, por ter te transformado nessa carga cheia de desejos meus que não poderiam ser realizados da noite pro dia. Enquanto eu te sonhava, você sonhava o mundo. Eu separava: você maior que o mundo. Você juntava: era só mais um. Quando me adequei no seu colo, entenda, achei que tinha me adequado ao universo que não era tão bom comigo antes. Quando a gente ficou junto numa noite sem fim, todas as outras noites pareceram ter sido tão boas quanto. Eu que era sombra solitária, virei sol que iluminava todas as ruas. Vocês não quis vir, se enxergava menos que isso e colocava óculos escuros pra me aguardar. Que humildade triste, que tanto de querer não ser! Eu pedia: fica, que não te mereço e ainda quero. Você dizia: vou, que não sou merecimento e nada além. Sendo sombra você me via, sendo sol você não queria olhar, de toda forma a gente ficava distante e eu não sabia mais o que deveria ser.

 Flávia Andrade

agosto 22, 2015

O cansaço dela

    A garota dentro daquela casa cansou de não entender o que você deseja. Não vai mais abrir a porta até que se explique, não vai pedir pra entrar até que faça sentido, não vai deixar permanecer sentado por horas a sua frente até que compreenda. Ela cansou de rodear em círculos ao seu redor, sem saber se você está indo para algum lugar. Se fosse para não ser nada, nem viesse. Se fosse para ser tudo, custava dizer? Porque ela perde as noites de sono, os grandes momentos nas festas e o andamento das leituras enquanto tenta achar respostas para o que você não sabe ou não quer explicar. A garota vai ficar ali, com toda a pose de forte, de quem tem certeza. Explodindo de dúvidas, esperando que você diga. Ela prometeu que vai descobrir, desvendar, dar jeito. Espero que você mostre, revele, dê jeito e não deixe ficar muito tarde, ela está cansada. Cause menos do que já causou, só dê um pouco de liberdade a quem se prendeu em você sem porquês.

Flávia Andrade

Sinto muito!

    Desculpa, mas eu sinto tanto! Eu te amo cada vez mais, e por hoje te quero cada vez menos. Me arrependo num monte de dias, volto atrás por alguns meses, te digo coisas bobas, bonitas, estúpidas, lindas, grosseiras. Penso em não ser mais assim, acabo sendo o dobro. Tento não pensar em mais nada, e enlouqueço com toda a carga psíquica. Digo que não dá mais e te chamo pra mais perto, digo que acabou e não deixo o dia dizer adeus. Sinto tanto que me perco aqui dentro de mim, e quem é que me reencontra?

Flávia Andrade

agosto 19, 2015

A rua das sete letras

    Não vou descrever a rua, a rua é nossa e os textos serão pra você. Idas e vindas são muito pouco para nós, somos de voltas, giros, contornos, meia-idas, meia-vindas, danças no asfaltos, pulos, quedas, tropeços, subidas e descidas, desvios. Somos de ficar parados também, às vezes nem furacão e nem caminhão nos move. Digo no presente, mas não há verbo exato quando se trata de nós. Existimos nos anos passados, presentes e futuros. Somos transeuntes de uma rua que, em questão de história, é maior que a infinita highway. E transeunte não se perde no tempo, apenas deixa o tempo se perder. Não descrevo as casas, tampouco as outras pessoas das casas. Somos só nós dois e cada centímetro que pisamos em tantas horas que não esqueço. Pois se esqueço, invento, e vira memória outra vez. Um livro inteiro sobre você, é sua glória ou seu maior medo?

Flávia Andrade

agosto 18, 2015

Na tevê

    De repente, eu estava afundada na tela da tevê. Não enxergava nada, só sentia: uma saudade enorme, uma vontade de te ligar pra dizer que o filme que estava passando era tão você que não poderia ser mostrado naquele horário pra todo mundo. Eu mal respirava, nem pensava direito, só tinha esse impulso de ser sua outra vez. Ser sua pra poder dizer qualquer ideia boba que me estava me ocorrendo naquelas horas alheias aos seus compromissos. Eu nem sabia onde você estava. Então, os olhos ficaram marejados, o rosto ardeu, apertei meus lábios: eu não poderia te ligar, não poderia dizer coisa alguma porque faz anos que não nos falamos e faz mais tempo ainda que não somos amigos e um tempo tão maior em que não nos entendemos. Não dava pra ser naquela hora e não daria pra ser dali pra frente. Desliguei a tevê, as cenas continuaram passando na minha mente como se você fosse o protagonista, como se fôssemos nós encenando o roteiro. Eu achei que tinha apagado as memórias suas, mas elas se reinventam a cada dia em todos os meios possíveis, não me deixam esquecer.

Flávia Andrade

agosto 17, 2015

Faz cultura

    Bota nessa cultura um pouco de você, um cado de mim e bota aquelas músicas que a gente ouve quando bate a tristeza, e aqueles filmes que a gente vê sem entender nada do começo ao fim. Elogia o Chico, mas o Cícero também. Adora os filmes com o Wagner Moura, com o Selton Mello também. Bota nessa cultura o que veio antes e o que veio depois, como era nossa rua há anos e quanto comércio chegou. Aliás, fica de olho nas construções, na urbanização, e não perde a tradição de vista,aquela quase perdida no lugar de sempre, vai visitar. Bota nessa cultura tudo o que todos os seus sentidos já puderam alcançar nesse lugar, encontre pessoas que já sentiram igual e procure pessoas que nunca sentiram nada além. Mostra, ensina, grita na rua que a cultura é nossa depois de nós. Faz não é faça, faz agora antes que eu peça ou mande, faz como quem não pensa muito, apenas expressa. Esse é só mais um texto e os muros ainda estão apagados, esse é só mais um texto e o som ainda está mudo, esse é só mais um texto e sinto que não faço nem cócegas nesse mundo. Bota a gente nessa cultura, nos prega nas paredes e nos postes, faz acontecer.

 Flávia Andrade

agosto 16, 2015

Escrito à mão

    A minha lista de compras escrevi no bloco de notas do celular, apressada, precisando de algo prático. Os desejos me deram preguiça de serem escritos, então só sublinhei palavras em revistas com caneta vermelha e estão lá, quase perdidos. Os livros foram sequências enormes de tec, tec, tec no teclado do computador. Os textos nem foram escritos, brotaram por aqui buscando olhos que pudessem lê-los. Mas você, e só você, foi escrito à mão. Nos cadernos velhos, nas mesas já rabiscadas, nas paredes descascadas, na porta do guarda-roupa novo, nos muros vandalizados, só teve você. Versos, e frases, e gritos escritos, tudo sobre seus detalhes tão nossos dentro de garranchos neuróticos. Então não me diga para apagar ou esquecer, não me diga que vai ficar para trás. Minha mão direita fez todos aqueles contornos cansativos para dizer o que nunca poderia ser dito a ninguém. Eu disse, eu disse e repeti. Estarão, todas as palavras, gravadas ainda que queimem os cadernos, limpem as mesas, pintem as paredes e os muros e toda matéria. Você fica, eu fico, a memória fica, não tem mais jeito de jeito nenhum. Perdoa, você foi escrito à mão.

Flávia Andrade

Hoje além

     Por hoje, só por hoje, o dia não vai acabar nunca mais. Vou te pintar de infinito, guardar no meu bolso, ninguém sai. Vou me deitar do teu lado, desse lado em que podemos olhar pro nada, assim o dia vai durar.
Flávia Andrade

agosto 14, 2015

Promessas

    Só te prometo uma vida simples. Não digo que veremos jogos às quartas, porque numa quarta qualquer podemos decidir acampar. Não digo que em todos os sábados beberemos, porque talvez em algum deles acordemos já bêbados e precisando só de água. Não juro conversas longas todos os dias, pois podemos ficar quietos por tempo indeterminado em um dia chuvoso. A vida nem precisa de tantas palavras afinal. Não ligarei se você vier de bicicleta, porque assim eu também vou. Aliás, não ligarei se você não souber cantar, cozinhar, dançar, nadar, eu sei poucas coisas também. Na vida simples a gente aprende o que importa, o resto fica nos filmes. Não te digo que tudo vai dar certo, mas prometo tentar pensar e te mostrar as coisas boas quando a vida estiver ao contrário. Podemos sair da linha, arrebentá-la ou cair, apenas não podemos nos perder. Você sabe, é fácil me encontrar em casa. Eu sei, é fácil te encontrar na rua exata. Não pedirei para que não mude, só peço para mudar comigo. E só digo: você tem exatamente um tempo que não vou contar para pensar se vai vir.

Flávia Andrade

agosto 13, 2015

Eu que fui

     Faço falta em mim. Ando precisando viver em dobro pra disfarçar meu eu pela metade. Falo pouco e durmo menos, sou só um peso pensativo na cama. Não corro nem paro, não ligo nem atendo, só escrevo das oito às vinte e três. Marco compromissos até uma semana antes e desmarco com meia hora de antecedência, guardo a roupa de sair e ligo a tevê. Sinto falta de quem vivia mais que pensava, mas me restaram de imediato só os choros que escapam. Me tornei uma contradição perdida que dá voltas no mesmo lugar, pois não sabe pra quem pedir socorro. Fiquei pela metade porque outra parte está num caminho distante, correndo atrás das pessoas, e do tempo, e dos sonhos que não podem ser esquecidos. Faço falta em mim, nesse quase vazio que sou agora.

Flávia Andrade

fica bem, menina

    ô, menina, chora não. nada vai voltar pro lugar onde você pôs como se fosse enfeite, e tudo vai se quebrar por aí fora dos seus cuidados. você já fez o que deveria fazer, já deu seus braços, pernas e ideias praquilo que não soube aproveitar. se acalma mais um pouco que depois desse instante será amanhã, e amanhã todos vão querer te ver. vão te esperar nas janelas e na porta, vão te esperar em todos os quarteirões, vão procurar sua cara de choro. você só pode sair com o rosto bem seco, com um sorriso grande pra buscar uma nova de-coração pra ficar do seu lado outra vez. só pode sair quando já tiver um jeito de ser feliz novamente, nem precisa mostrar. arranja e guarda, quero que guarde bem. chora não, ele não vem mais, os dias não voltam pra trás e você precisa enfrentar filas pra pagar suas contas, pra ir ao cinema, pra comprar mais coisas pruma casa pra uma. o mundo todo é passageiro, menina, e você também tem que passar de mansinho por todo mundo.


flávia andrade

Você, álcool e escrita

    Pra escrever sobre você preciso tomar litros de água, como quando acordo de ressaca na segunda-feira. Depois que escrevo sobre você preciso de álcool, como quando quero me curar de ressaca logo no sábado. Você me deixa com o coração batucando, pernas bambeando, como se no meio da dor eu pudesse sambar. Me deixa entre o gosto quente da bebida e o gosto amargo do vômito, mas busco mesmo pelo seu próprio gosto toda vez que saio de casa em busca de alguém. Procuro seu cheiro em toda camisa sem perfume, procuro seu riso em todo lugar quase sem barulho, busco um tanto de você que não está mais aqui. Porque depois que me deixa assim, embriagada, vai embora e eu que me cure. Eu te digo, então, enquanto grudo em você pra dançar no canto do bar: não me curo com reza, com insistência, com tempo. Eu me curo com você, um porre após o outro. Uma bebedeira na montanha-russa, um grito no chão. Pra escrever sobre você tomo tudo o que há em casa: água, vinho, cerveja, azeite, seja o que for. Mas pra te encontrar, só se eu tomar uns goles de coragem, e isso só encontro nos seus bolsos.

Flávia Andrade

agosto 12, 2015

Mudanças

     Uma hora ou outra um tanto de pessoas vai ficar pra trás. Você pode se manter vivendo e sonhando no mesmo lugar, mas estará vivendo e sonhando diferente, e uma quantidade enorme de gente dos seus anos passados não vai se adequar mais e vai embora. Passo a passo, até que você só note quando já estiverem distantes. Acontece porque o tempo não está parado esperando que as mesmas pessoas sorriam umas para as outras todas as manhãs. Será benéfico se você aceitar mudanças, será doloroso se entender como perdas.

Flávia Andrade

agosto 11, 2015

A guria das artérias folks

    Cabelos escuros sem cor definida acostumados a ser presos no alto da cabeça que sempre doía, por enxaqueca ou ressaca. Olhos que buscavam os detalhes emocionais e não enxergavam nada de material à primeira vista. Boca que se movia pouco durante o dia e se mantinha fechada enquanto todas as palavras corriam desesperadas pela mente. Fígado desgastado, pulmão meio ruim, coração com peças faltando, perdidas, peças que o serviço especial de consertos humanos não tinham no estoque. A guria em pé no ônibus não se vestia tão bem, não tinha ritmo na voz e não deu ouvidos a quem tentou corrigir sua postura. Porque os ouvidos só notavam, quando ela ainda tinha jeito de mudar, Bob Dylan e Neil Young
    Por que é que alguém foi dizer que gostava daquilo tudo? Depois que disse, ela quis mudar a cor do cabelo, quis olhar quantas cadeiras vazias restavam nos locais, quis falar sobre o que não sabia. Mas os pedaços defeituosos de dentro ainda estavam lá, sem remendos, sem cola, sem costura, sem novas instalações. Quando um certo alguém disse que gostava dela, não enxergou as músicas folks que percorriam suas artérias. E quando descobriu, não quis ficar.
     Ela era um pequeno erro por fora, um caos por dentro e uma noite de distúrbio que durava o tempo inteiro. Se estragou um pouco mais por uma pessoa só que viajou por todo seu corpo até encontrar seus caminhos sem saída. Quebrou mais algumas peças, apresentou mais falhas e não aceitou cura nenhuma depois que aquele do quis-e-largou foi embora.
    Por que é que alguém foi dizer que gostava daquilo tudo? Antes, ainda sabia viver um pouquinho bem, não queria se trocar por uma nova geração.

Flávia Andrade

Escapatórias

    Se você não foge no meio dos filmes, sei que foge dentro duma música, escapa numa leitura, viaja pra longe ou finge ser outra pessoa por um dia inteiro. Ninguém pode ficar aqui o tempo todo, a vida não é um cubículo fechado. Nem adianta trancar as portas, elas se desfazem em tempo de chuva, não aguentam nada. Se você não foge prum lugar alto da cidade, deve ser que foge prum porão, pruma rua sem saída, escapa e sai num bar esquecido. A verdade é que todo mundo tem uma escapatória bem guardada, de reserva, que às vezes nem o consciente sóbrio reconhece.

Flávia Andrade

Que é pra te ver

    Eu vou embora bem cedo, meu bem, que é pra dar tempo de você me alcançar antes da hora do almoço, que é pra gente lanchar, que é pra eu te fazer uma janta na casa de fuga. Eu vou dizer "não" bem rápido, meu bem, que é pra você achar que eu não quero mesmo, que é pra aumentar o número de argumentos dispostos a me convencer. Eu vou dormir bem tarde, meu bem, enquanto o filme ainda estiver passando, que é pra saber se você vai me cobrir e me deixar por ali, que é pra saber se você vai tentar me acordar, que é pra saber se você vai me levar pro quarto. Porque eu preciso e quero sempre mais, meu bem, e eu gosto de quando você demonstra. Porque eu te canso pra te ver dar um sorriso maior que o mundo quando nota que é só charme meu. No fim do dia que se esconde da segunda-feira, no finzinho do domingo eu deixo um bilhete: não te abandono nunca, te recuso pouca coisa, nem venho só pra ver filme. Que é pra te fazer feliz do jeito atrapalhado que você me faz.


Flávia Andrade

agosto 10, 2015

Mais outro

    Não vou te por nessa história, por agora é minha preferida e você já estragou tantas outras. Não vou te deixar ser uma frase de efeito, porque em mim o efeito é sempre contrário. Não te deixo nem passar por um parágrafo em papel rasgado com letra torta, não te deixo nem ser texto de terça-feira. Isso aqui é só um esboço, nem importa. Talvez eu faça mil outros pra disfarçar que você é meu único motivo pra ainda pegar uma caneta no balcão e rabiscar guardanapos. Enquanto isso digo que não me inspira a mais nada, nem aos planos lidos em voz alta de fingir que não existe. Não vai ser conto matutino, crônica diária, nem poesia que madruga vez ou outra num dia sóbrio. Não vou te por nessa história, será somente sobre um guria que não sabe escrever sobre ninguém além de alguém que não pode ser citado.


Flávia Andrade

Destexto, detesto

    Feitos de desencontros e construções de desentendimentos. Perdidos entre dois: um alguém qualquer e um ninguém que só responde pelo apelido. São, por completo, um desacerto, um crime desprovido de lei. Por acaso, só restou ele de inspiração. Por descuido, só restou ela naquela rua dos desesperados. Por fim, são só palavras de efeito negativo: um desfavor às vidas que tentam seguir.

Flávia Andrade

Coisa de escritor


    Escrevi num pedaço de papel todas aquelas coisas que eu não pude dizer quando estivemos cara a cara no meio da minha noitada embriagada. Escrevi naquilo com uma caneta falha porque não me restou tempo de correr e pegar caderno ou ligar o computador pra dar sentido aos sentimentos sem razão. Fiz de você um resumo de dez ou doze linhas que nada dizem sobre o que realmente é, mas sobre o que vejo e posso tentar não entender. Deixei você nesse papel porque é só onde posso deixar guardado enquanto a todo custo você me escapa como quem nunca pediu pra ficar. E eu lembro tanto, mas um tanto, das vezes em que não quis ir embora, e é lembrando com tal exagero que não sei mais largar mão. As mãos são só para escrever o que me falta na coragem da fala e do ato, o que me falta de sinceridade no meio dos meus risos que tentam te convencer que não me importo. Perdoa, por escrever todas essas coisas sobre uma pessoa só e guardar numa pasta que se chama "textos para uma pessoa só". Perdoa também meu jeito transbordado de textos não ditos e sem vírgulas. Deve ser coisa de escritor e, por isso, qualquer papel serviu.


Flávia Andrade

Desatenção

    Se você precisa me perguntar, não esteve olhando o suficiente. Eu dei todos os sinais o tempo todo, nas filas, nos bancos e nos veículos. Eu disse palavras perdidas que significaram mais do que livros, disse nas avenidas, nos bares, nas casas. Se você ainda tem dúvidas, não esteve me ouvindo por muito tempo. Eu gritei todos os planos do alto do prédio onde você mora, eu cantei aquelas músicas sem fim sobre a gente. Por todo lugar que passamos, uma pista mínima ficou, caso volte para refazer o caminho. Mas se ainda está aqui me perguntando, não quis andar nenhum pouco pra trás. Se não pode voltar, não pode seguir em frente também. Se eu seguir sozinha, não questione o motivo. Esse é mais um daqueles textos que você não lê, mas deveria. Essas são mais uma daquelas palavras que você não escuta, mas eu ainda digo. Tenho um tanto de sentimento que vai ser empurrado numa caixa para que caiba, vou largar por aí. Traço minha rota de fuga e em silêncio faço uma festa de despedida, pra não dizer que fui sem dizer adeus algum. Se você não souber achar, é porque já me perdeu há muito tempo, é porque o acaso esteve certo sobre vestir as minhas botas e andar pra longe.


Flavia Andrade

Mesa pra ninguém

     O mundo se inclinou um pouco pra gente, torto e desajustado desse jeito, se equilibrar. Mas não é mais um texto clichê. A gente recusou o empurrão do mundo, recusou dar certo. A gente saiu correndo o mais depressa possível pra gritar lá fora que não seria nada, nunca foi e nem será. Porque vez ou outra a gente expõe nossos defeitos, diz aquelas coisas que ninguém mais diz e provoca. Algumas vezes a gente soa desnecessário, implica à toa, faz drama. Dois assim não se encaixam nem que o mundo tape os ouvidos, nem que a vida tire um cochilo na rede, nem que todos se embriaguem pra nos aguentar. Dois assim são errados até se mudarem os conceitos, os significados, a semântica toda. Dois assim não duram muito tempo. Obrigada, mundo, mas os dois têm que partir, em rumos opostos, de forma que não se cruzem mais nas ruas que os atraem sem querer. Os dois não vão embora sem deixar um pedaço de sorte amarrado num poste, fica pra quem encontrar e talvez, outros dois aproveitem melhor.


Flavia Andrade

agosto 05, 2015

A Magia do Beco

    Eu peço sempre um pouco mais daquilo que não encontro em qualquer lugar, e quando ganho (quase nunca ganho) recolho aos meus braços e corro sem pensar, como se fosse se dissolver sobre mim. Me prendo ao que não poderá ser meu por mais de algumas horas. Por essa razão me apaixono em todo canto que desconheço e não sei visitar quando quiser. Amo todo ambiente que piso sem querer e quando vou embora não lembro mais qual era. Idolatro toda substância que causa um primeiro efeito no meu corpo e busco piores. Na contramão do que quero, espero cada vez menos pelas coisas que o mundo inteiro já tem. Quando caem no meu colo (porque todas essas coisas aparecem facilmente), jogo ao chão e deixo quebrar. Ou rasgo, ou mordo, ou queimo. Porque me adequo somente ao que está fora do meu alcance: aos sonhos distantes de um inconsciente conturbado.
    No Beco, enquanto ando, rodo, corro e grito, me perco para que, de alguma maneira, eu possa saciar todos os meus desejos que ninguém mais pode. Sei que no Beco há um pouco de pó mágico ou coisa que o valha que nos deixa mais próximos do que uma vida toda fora dele não pode proporcionar. Nem que tenhamos dinheiro, casa, carro, marido e filhos. Nem que estejamos nas revistas, na televisão, na rádio ou no The New York Times. Nem que o Dono do Bar garanta bebida free até o fim do ano. O Beco Bêbado provoca sensações por si só, como um ser maior, então eu arranho meus braços nos muros e deixo doer, deixo arder. Aqui, no fim do universo atrás do bar, no escuro tóxico, eu me recomponho de tudo o que me foi tirado, arrancado, rejeitado.

Da janela do ônibus


    Fico perdida, por acaso, no caminho para lugares sem importância dentro de um ônibus lotado, enquanto começo a pensar em todas as coisas que eu deveria ter dito quando você esperou respostas, em todas as coisas que eu deveria ter feito quando você não esperou nada, e tudo o que eu deveria ter deixado para trás antes que ficassem cravadas em mim. No meu rosto algum sorriso às vezes escapa alheio às coisas boas que lembro, aos meus desesperos a toas e aos mal entendidos que depois foram resolvidos. Adentro outros universos enquanto não chego ao destino do outro lado da cidade, de toda forma, ando percorrendo extremos. Fujo de mim porque de jeito nenhum me comporto nesse corpo sem calor seu. Quando me desligo, assim, tão fácil quanto pagar com moedas pelo meio de transporte coletivo, dou jeito de me desligar tanto até não estar mais presente. Vou para onde meus braços te alcançam e refaço aqueles dias que não deram certo.
    Mas o ônibus chega e para. Eu tenho que acordar e descer. Tenho que levar essa vida como quem leva todas as compras numa sacola pendurada no ombro esquerdo. Tenho que me encontrar nos lugares onde não te vejo e andar até os lugares que preciso ir para não ser só mais uma perdida na multidão.


Flavia Andrade

Nessa casa


     Vê? Como o tempo não passa, a vida não muda e o mundo parece desligado, você vê? Olha como os objetos fogem de nossas mãos num piscar de olhos. Olha como a casa vira bagunça sem fim sempre que voltamos do trabalho. Percebe como não consegue escutar música nenhuma porque lá fora há um som mais alto? Os ruídos se misturam tanto que você prefere trancar todas as portas e dormir. Notou como o gás acabou mais rápido nesse mês, a conta de água veio mais cara e o tempo no banho refletindo sobre a vida dobrou? Ainda pode ver como tudo era antes da gente se conhecer? Porque por aqui era tudo calmo, vejo bem de longe, sob borrões, e o que causamos um no outro nos deixou fora do eixo. A letra torta quando te escrevo à mão, o aumento da gasolina, o rasgo na calça, o corte exagerado no cabelo, a discussão no emprego, a crise econômica, as mazelas reportadas. Isso tudo nos habita. Tropeçamos, derrubamos, batemos, e nada nos move para longe. Vê como pertencemos a um lugar só? Onde a gente se adequa à largura do alto do abismo, e não nos deixamos cair.


Flavia Andrade

Sigo só


    Sigo só. O dia acabou, meu bem, e você não apareceu. Não passou por essa rua, não contou as horas, não lembrou do convite feito e aceito. Para mim, foi um vasto dia de espera. Eu pensei em ir até você e descobrir seus motivos inventados e tentar acreditar em algum. Até pensei em refazer o convite para uma data menos tumultuada que essa terça-feira. Mas minhas pernas ficaram exaustas pela inquietude que me fez rodar em círculos te esperando vir de qualquer lado do planeta para me ver. Sigo só. De mim não espero nada, sou feita por erros e erros nunca são planos. Então sigo sem ansiedade, sigo porque já escureceu e não posso ficar mais horas por aqui. Cada hora de espera física são mil horas de confusões internas e mentais, guerras de silêncio e gritos na cabeça. De longe, espero que não fique só. Seja em qualquer lugar que esteja sem mim, pois eu sei bem como dói, cansa e dá sede. Sei bem como incomoda, irrita e bate medo. Sei bem como é desesperador e como é preciso manter disfarce de calmaria. Sigo só, para você se encher de todas as outras coisas ou pessoas que não te deixaram chegar até aqui.


Flavia Andrade

agosto 01, 2015

Destino a gente faz


     Eu canto as músicas aqui em casa, desafinada, sem violão e sob gritos. Só pelo desejo (coisa à toa de sentimentais) de que você me ouça por aí. Seja em noites mal dormidas ou dias cheios, que você se perca tentando descobrir de onde vem o som. Enquanto isso danço sem embriaguez sua, com os desastres meus me rodeando e rodando. Eu escrevo garranchos em papeis amassados e largo em cima de mesas de lanchonetes, como se você fosse parar pra tomar um suco de laranja sem açúcar e encontrar, por acaso. Como se nossa vida tivesse atada e tudo o que eu fizesse te trouxesse pra perto. Realizo desencontros pra te ver, como quem não planeja nada na vida, em ruas que desconheço e dizer, como quem mente bem, que passo por elas o tempo todo. Logo em seguida até finjo parecer um tanto boquiaberta com tamanha coincidência. Se destino nenhum houver, ai do mundo que não soube oferecer, eu nos junto debaixo de chuva, nem precisa ser cena de filme.


Flávia Andrade
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