janeiro 31, 2016

Eu quero muito do que você não disse querer ainda

    Eu sinto que ainda não estou preparada para escrever sobre nós dois. Tem muita coisa na minha mente que continuo sem entender, muito "por que" e pouco "porque". Algo foge de nós para que não fiquemos completamente juntos, para que reste alguma falha que nos incomode antes de pegarmos no sono. E, em alguns dias, um tempo chuvoso significa muito mais que um imprevisto. Significa que os encontros apenas não devem acontecer. Não sei quem de nós está nos prejudicando, e ainda que sejam os dois, não sei se somos nós do presente ou nós do passado, mas de qualquer forma, estamos impedindo nosso futuro. E por mais que desejar um tanto de momentos bons para as próximas semanas seja o que eu mais desejo, temer o que se passa na sua mente quando não está comigo vira uma barreira enorme que não me deixa te pedir para ficar. Eu sei que poderíamos ir além e também sei que podemos nos perder cedo demais. Eu quero muito do que você não disse querer ainda, e receber todo esse seu silêncio é abraçar incertezas. Por fim, escrever qualquer frase sobre nós é colocar as cartas na mesa. Embaralhadas. Viradas para baixo. E ao organizá-las e olhá-las, descobrir que estamos jogando o jogo errado.
Flavia Andrade

janeiro 28, 2016

Antes do fim

    Qual foi o dia desse mês que você tirou para me deixar de novo? Que não seja outra segunda-feira. E qual será o dia em que vai enjoar do tanto de histórias que conto antes de você pegar no sono? Eu posso tentar escrevê-las, em silêncio, para evitar desperdício. Qual é o tamanho da saudade que você vai sentir até o próximo final de semana? A minha já alcança alguns satélites, fazendo o tempo parecer uma areia emperrada na ampulheta. Para onde você vai depois que chega cansado de um encontro nosso? Para mim não existe nenhuma outra possibilidade além de deitar a cabeça no travesseiro e refazer memórias (até o quarto sente saudade). Quem é você depois que me vê? Alguém mais sorridente ou alguém mais quieto? Alguém mais feliz ou alguém mais exausto? Eu venho te fazendo algum bem? De uns tempos pra cá, quando só gostar muito de você parou de ser o suficiente, eu venho me perguntando quanta coisa pouca ainda nos resta até tudo acabar. Eu sinto muito desde agora, sentindo que te perdi desde o começo da semana passada. Eu sinto os detalhes me dando avisos e quero respostas suas para ter certeza. Por quanto tempo a gente vai se distanciar até perceber que já estamos em mundos diferentes?


Flavia Andrade

janeiro 26, 2016

Silêncio

    Eu sei que a pressão de ter algo a dizer é gritante e que na maior parte do tempo bate um desespero em tentar mostrar o melhor de você. Aquele melhor que precisa superar qualquer outra pessoa que ele já conheceu. O desespero em mostrar te sufoca, porque precisa dizer sobre tudo o que sabe sobre o mundo e qualquer coisa da vida, inteirando-se de razões. Você quer ser aquela que tem algo a oferecer além - e ainda mais além - de corpo, alma e coração. Assim, transborda na pressa de não ser abandonada antes do tempo. Do tempo de chegar ao ápice de seus desejos: ser reconhecida como realmente é. Ser descoberta. Você arremessa suas informações, dados, números, histórias, coadjuvantes de sua vida; compartilha os segredos, os medos, e conta aquilo que nunca quis contar para mais ninguém. Mas dessa vez conta porque quer que ele te compreenda. Você confia às cegas apenas por carecer de confiança também. Por carecer de ser um alguém importante para outro, e quer ser para ele. Eu sei que quando se diz muito, espera-se uma resposta maior ainda. Sei que todo esforço por alguém se alimenta de expectativas. Sei que dele você quer muito mais do que os remendos que outros já ofereceram. Sei que querer tanto assim é se precipitar em queda livre. Mas eu te dou um conselho só, desses meio sussurrados, meio embargados de embriaguez: o silêncio também encanta.
Flavia Andrade

janeiro 22, 2016

O seu bem

    Tem tanta coisa acumulada por aqui, meu bem. Eu quero simplificar para nós, mas não me desprendo do que já me causou tumulto e sinto medo de cair no meio dessas tralhas arranhando meu corpo e conseguindo alguns cortes mais profundos. Quando ficamos a sós, sinto que estamos em um cômodo lotado e bagunçado, sinto que estamos perdidos. E eu quero o sossego que você tenta me oferecer. Juro que quero. Eu tento não te olhar com os meus olhos de desespero, mas as pálpebras vacilam em fechar e peço socorro silenciosamente. Peço até que você me acalme, sorrindo assim, meio de canto, um pouco perdido também. Aos poucos vamos colocando as coisas no lugar, não vamos? Vamos dando suporte aos itens quebrados, remendando. Eu quero que a gente fique bem, só pra continuar sentindo essas coisas boas que você me traz, só pra continuar te roubando pequenos impulsos de contentamento.
Flavia Andrade

janeiro 15, 2016

Improbabilidade

    Conhecer alguém nunca é um plano. Te conhecer nunca foi meu plano. Gostar tanto de você nunca foi anotado em um bloco de notas amarelo e pregado na parede. Mas acontece e aconteceu enquanto atuo nesse circo do improvável, enquanto vivo. 
    Encontrar em alguém muito do que nos falta nunca acontece à primeira vista. Talvez à segunda. Encontrar em você aquilo que eu nem sabia que poderia me fazer tão bem não foi o que esperei quando conversamos pela primeira vez. Mas os primeiros momentos sempre explicam, quase despercebidos depois, tudo o que há de vir. Porque a vida, ainda que improvável, somente nos apresenta aquilo que nos importa(rá). 
    Você veio sem avisar que viria, sem intermédios e ligações, ainda que uma coincidência qualquer apareça vez ou outra. Veio sem me contar que efeitos me traria, sem saber dos efeitos que poderia me causar. Eu apenas te deixei entrar no meu tumulto, mas terminar pedindo para que você fique cada vez mais ao meu lado nunca foi um plano. Precisar tanto de alguém nunca é um plano. Mas a gente precisa, e eu peço um lugar para ficar por perto.

Flavia Andrade

janeiro 12, 2016

Meu e minha, eu.

    Meu corpo fica bonito com poucas peças de roupa, caminhando tranquilo pela casa, dançando na ponta dos pés ao som daquelas músicas do Bowie. Parece lindo na frente do espelho, ainda que com curvas tortas nos contornos ou feitas de estrias na pele. Não se apresenta tão bem às câmeras, e não quer tanto. Guarda-se em casa, na liberdade de semi-nudez contemporânea. Hoje não quero sair. 
    Eu ando leve do quarto para a sala de estar, buscando novos pensamentos para desperdiçar horas. Os dias não me pedem muito e as pessoas não me procuram, eu quase desapareço. Não me sinto só, não tanto. E se me sinto, enrolo-me em um cobertor e trago de volta as boas recordações de bons abraços, até a solidão ir embora devagarinho, enganada. 
    O que me importa é o som funcionando e a porta da geladeira sendo aberta no meu tédio. Eu sinto que posso ser dessa forma estranha quando não há ninguém para ver. Eu me encontro e me reencontro e me escondo quando sinto medo de todas as descobertas sobre quem sou. São como os textos mais intensos e autobiográficos que me causam arrepios, apenas porque com palavras me revelam o que eu custo a acreditar. 
    Meu corpo quer dançar sozinho onde sobra algum espaço, entre os tropeços nos móveis. Eu gosto dele, mesmo cuidando pouco. Gosto de como não se solta tanto, sem perder a chance de parecer flutuar. Gosto de como abriga meus medos e meus segredos e meus gestos e minhas histórias e minhas ladainhas e aquelas mentiras que nunca desmenti para ninguém. Gosto de como suporta o peso dos meus problemas, mesmo que os suporte em cima da cama. 
    Dizem que o tempo passa depressa, mas eu desperdiço meu tempo contando horas e as horas ficam paradas me encarando com a mesma intensidade que as encaram. Os números no relógio só mudam depois de muito esforço. Eu fico agoniada. Então lembro novamente, estou sozinha nessa casa. 

    Danço. 

    Danço porque, de alguma maneira, a vida tem que seguir. Me sinto bem porque, de alguma maneira, eu tenho que estar bem. Aceito esse corpo e até gosto dele porque, de alguma maneira, é meu.

Flávia Andrade

janeiro 11, 2016

Três dias

Estive sem coragem de escrever, porque somente descubro os sentimentos reais frente às imaginações todas irreais quando não há mais outras palavras para acrescentar e outra sentença para ir além. Estive morrendo pela casa, morrendo em um sentido geral de desaparecer, ou ao menos tentar. Morrendo pelo esquecimento, embora a mente estivesse sendo preenchida de memórias. Memórias boas, memórias ruins e memórias de momentos que nunca aconteceram.
15:47 agora.
Às 15:45 eu ainda vestia o vestido de ontem, o vestido de sexta-feira, o vestido comprado em Santa Catarina em umas dessas viagens das quais me arrependo. Um vestido de vinte e cinco reais, azul escuro, com estampa de pássaros pretos. Pássaros voando pelo azul, como se voassem à noite. Pássaros libertos e eu ali tão presa.
Na sexta-feira eu quis encontrá-lo. Eu iria encontrá-lo. E seria no meu canto, perto da minha casa e com os meus amigos em uma noite regada à vinho de cinco reais e oitenta centavos. Foram dez vinhos, eu enviei a foto deles no carrinho de compras do supermercado. Ele tinha dúvidas sobre aquela noite, querendo saber se poderia me abraçar na frente das pessoas que estariam com nós, provavelmente bêbadas e cantando. Ele poderia me beijar, ele poderia me tirar de lá. Passar a noite de braços cruzados nunca foi o plano. Eu permiti, do meu jeito pouco didático. "Sim, cara", eu disse.
Eu mal me recordo quais foram as desculpas. Eu estava lá com o vestido azul de pássaros e cheirando à mousse de morango pelo corpo inteiro. "Estou cheirosa?", eu perguntei. "'Tá pra caralho", meu amigo respondeu. "Gostou do meu vestido?", eu perguntei. "Eu já ia dizer... Eu adorei", meu amigo respondeu. Era tudo por quem estava por vir. As desculpas não importaram tanto, o que significou foi o seu lugar vazio, ainda que eu nem tivesse trazido sua cadeira ainda (talvez porque desde cedo, com meu pessimismo covarde, já acreditasse que ele não viria). O que significou não foi palavra nenhuma dele, foi apenas sua ausência.
E eu bebi. Entornei taças e garrafas. E com o emocional abalado, e com uma saudade enorme, vomitei na pia do banheiro do ex-bar do meu amigo e lavei a pia jogando água da torneira ao redor. E ao sair peguei uma garrafa de água. E dormi na cadeira. E escorei no ombro de outro amigo. E escorei no ombro de uma semi-desconhecida. E mal vi outras pessoas chegarem. E fui a primeira a ir embora, depois que alguém quebrou uma das minhas taças. Eu dormi sentindo falta dele e sentindo falta de quem eu era antes dele. Esse alguém não vomitaria tanto vinho e saudade.
Eu não quis encontrá-lo no sábado, preferi dormir. "Eu vou dormir porque assim não faço merda", eu disse para o último cara por quem fui apaixonada e que agora é meu mais novo amigo. Ele se identificou com isso. Muitas vezes erramos igual. Muitas vezes estamos nos afogando no mesmo tipo de relação conturbada. Ele me vê errando por aquele que não apareceu e tenta me mostrar o pior que pode vir enquanto eu não fugir disso com toda pressa, mas ainda não quero fugir.
O domingo foi de promessas. Eu as recebi deitada na cama, ajudando a alimentá-las. Ele estava mandando incontáveis mensagens buscando maneiras de elaborar um novo encontro e dessa vez, com certeza, ele apareceria. O medo maior era que eu não pudesse fazer minha parte. Eu teria que mentir para onde iria, porque contar que sairia com um desconhecido seria motivo para ser segurada em casa. Eu falei com os meus amigos e fiz os planos, até buscando lugares para que nós dois pudéssemos ficar a sós nesse bairro pequeno. Iria dar certo.
Às 20:20, eu estava pronta. Com os mesmos amigos, no mesmo lugar, com o mesmo vestido. Tinha alguma vergonha em mim, uma pequena timidez, por estar na frente daquelas pessoas por mais um dia, com a mesma roupa e perfume, esperando pela mesma pessoa. Minha voz bambeava e eu não quis conversar tanto. Mas eles olhavam para mim e eu estava sorridente, radiante.
Minutos depois, depois de um breve sumiço, mensagens dele chegaram.
Eu não quero pensar nas desculpas, porque mais uma vez foi sua ausência que marcou. E dessa vez veio junto uma vontade enorme de chorar ali com eles, eles que estavam comigo me vendo repetir a história. Com os mesmos amigos, no mesmo lugar, com o mesmo vestido. Sua segunda chance de colocar as mãos por baixo do meu vestido e provocar os efeitos que somente ele sabe provocar, sua segunda chance se esvaiu.
Foi um pouco diferente. Eu não dei mais atenção às mensagens, somente às músicas que tocavam em nossa roda de cinco amigos. Ninguém estava tão feliz. Meu rosto me entregava mais que os rostos dos outros.
Eu fiz uma piada. Eles não esperavam e riram o mais alto que puderam e alguns jogaram seus corpos para trás e para frente para rir em suas cadeiras. Eu também fiz isso e abaixei o rosto algumas vezes, apenas porque no meu riso todos, meus olhos quiseram transbordar lágrimas. Eu não sabia como parar o riso sem derrubá-las e estava com uma vergonha gritante em mim. Quando pararam, parei e tornei a olhar para a pulseira de três pedras azuis claras que eu segurava na mão, concentrada nas linhas dela desde que recebi aquelas desculpas. Eu tentava fazer um nó e nas tentativas me perdia em pensamentos. Pensamentos que não diziam nada, apenas se tumultuavam e acompanhavam as vozes de fora, das outras quatro pessoas conversando sobre qualquer coisa que eu não queria tanto conversar.
Quando voltei para casa, quis ler mais mensagens, mas não as tinha. Antes que o impulso de mandar qualquer coisa a ele me tomasse, às 23 horas em ponto, dormi.
16:10 agora. Nada dele.
Mas hoje, quando acordei, tinham mensagens de 23:05, 23:06 e 23:07. Ele se sentia culpado e com alguma dívida sobre mim, ele prometia me recompensar pelo desencontros de sexta, de domingo e de todos os outros dias. Eu li, reli, eu continuei lendo até as onze da manhã, quando respondi finalmente. Mas já não valia de nada. Não valia como as promessas deixaram de valer também. Não valia para me acalmar. Não valia para sossegar o drama dentro de mim. Não valia para conter esse choro que tem medo de vir. Não valia para explicar aos meus amigos que ele não é assim, tão ruim quanto parece. Não valia porque o rompimento de todas as expectativas criadas por ele mesmo foi mais doloroso do que deveria ter sido. E, pela milésima vez desse mês, eu digo: eu não sei lidar.

janeiro 06, 2016

Mais de nós

    Para não ser menos do que já somos, precisamos de mais do que já temos: um desperdício enorme de tempo para rir. Aproveitar um pouco mais de nós seria nos esconder numa dessas noites em que o mundo nos esquece, passando despercebidos por frestas de janelas e cortinas. Viver um pouco mais de nós seria percorrer outros caminhos, sem desatar as mãos. Eu sugiro, num sussurro em especial, que a gente gaste mais horas só para ganhar mais histórias, apenas para nos restar o que dividir depois. Para não perdermos o pouco do que por agora queremos, podemos ir mais a frente, mesmo que descalços pelo improviso e despreparo, mesmo que falte água e luz. Os postes podem nos iluminar até antes das três, depois só lua, depois só sol, e não importa. Para que eu possa ter mais de você, ofereço mais de mim, até que entre os compartilhamentos, ser nós, sermos, nos ser, te ser e tecer, seja tão simples quanto esse instante. Esse instante em que te olho e penso em tudo o que queremos e precisamos numa mesa para dois.
Flavia Andrade

Novo ano

    Eu iria reaproveitar textos de 2015 para escrever uma coisa qualquer sobre o que vem me acontecendo nesse começo de 2016, e senti uma pena de mim. Uma pena por pensar assim, desse jeito preguiçoso e acomodado, enquanto a vida vai caminhando sem esperar muito, meio apressada, olhando para trás apenas para me encarar um pouco indignada com minha demora. De qualquer modo, os dias apenas continuam na contagem exata de vinte e quatro horas e a mudança dos anos só nos serve de susto. Uma verdade repentina que se explode. Você espera por ela, mas ainda que esperada, no fim é sempre surpreendente. A verdade de que mais um ano inteiro se passou e mais uma fase inteira ficou para trás - mesmo que você não saiba se é possível finalizá-la ou não. Sem reajustes, o que vem acontecendo é apenas consequência desse tempo que não pára, dessa mente que não sossega, desse coração que ainda não cansa.

Flavia Andrade

janeiro 05, 2016

Intensidade por inteiro

    Meu emocional é feito de pressa, vira noite enquanto ainda raia o dia. Não espera muito, porque os sentidos se acumulam e se renovam e mudam o tempo todo, queimando de fora a fora, pulsando à flor da pele. Corre para o tumulto interno quando enxerga de longe a primeira multidão, com um medo danado das relações sociais - mesmo que no âmago os desesperos batam mais fortes e sem chances de fuga. Chora por não ter aninho, mas não se dá ao tempo de se entregar. É um tanto desestabilizado, mas tenta funcionar como um desses sentimentos bem resolvidos. Meu emocional é o resumo infindo do que sou, pois transbordo a todo instante. Por dentro sou pura intensidade e por fora sou o que não consigo conter, e de longe se estampa em mim o aviso de que sou toda exagero. Não sei porque ainda digo explicações, se me faço de incompreensão por inteiro. Pode ser apenas que venho pedindo socorro. Um pouco ou um pouco bastante, por menos suficiente que seja, de socorro para o aglomerado de sentidos, sentimentos e senti-medos meus. Pode ser que venho querendo um pouco mais de alguém que me deixe um pouco menos bagunçada. Pode ser que a exigência não seja em um todo tão complicada. Pode ser que para dar sossego a essas palavras, seja necessária somente uma frase boa dessas de me fazer acalmar.

Flavia Andrade

janeiro 04, 2016

Receios máximos por detalhes mínimos

    Eu tenho medo das suas frases menores dizendo algo diferente que tentam passar despercebidas, mas percebo. Medo das pequenas oscilações entre tanta certeza, apenas porque confiar - assim, de olhos fechados - seria demais para quem levou tantas rasteiras de promessas. Eu sei que seu esforço para me dizer as coisas mais bonitas é maior do que o meu. Mas somos diferentes nisso de sentimento. Eu sou uma pessoa qualquer, contemporânea e abstrata, e você é um clássico romântico. Nem sei por que fui gostar tanto. E por agora, pode até parecer que venho me arrependendo e querendo desistir antes da hora. Contudo, explico, tudo isso não passa de medo. Medo de correr esse risco imediato, apenas porque de longe parece bom. Medo de querer mais do que sei viver, como uma vida a dois pra quem tem coração egocêntrico. Coração que sente muito mais do que os outros e divide quase nada. Mas, perdoa esses receios todos. Ainda posso tentar. Ainda posso seguir. Embora fique sempre em corda bamba e linha tênue. Embora sinta uns surtos de fuga. Mesmo que fique procurando em você um motivo prejudicial que seja para não insistir. Eu quero, até quando penso rapidamente que não temos razões.
Flavia Andrade

janeiro 01, 2016

SE16EP01

    O primeiro texto do ano é a primeira conversa comigo mesma, depois de um longo período acompanhado pelo calendário. Até quando os dias pareceram durar décadas, mesmo assim, eram sextas que virariam sábados e correriam para os domingos ignorando a mente presa ainda nas terças. Porque o tempo lá fora passa a cada vinte e quatro horas, mas dentro da gente só passa quando a mente e o coração se alinham, preparados para sei-lá-o-quê que pode nos alcançar. Por vezes alguns porres não me deixaram controlar os pensamentos e por outras vezes a sobriedade não me deu chances de agir por impulso. A vida é um tumulto sensitivo - e tão humano, afinal. Os textos escritos foram repetições de momentos vividos, tão intensos a ponto de significarem coisas novas até o fim deste novo ano e se adequarem ao que há de vir. Os textos que ficaram pra lá ainda vivem, porque independem da data exata em que foram escritos. Mas por agora, somente por agora, o texto prende o antes, o agora e o depois, de uma vez. O sentimento do que poderia ser feito, do que faço e do que poderei fazer. Somente por agora, enquanto escrevo, nas palavras ficam as vontades esperançosas e algumas decepções discretas. Fica a saudade e vem o desejo. Exatamente neste instante, cada palavra minha tenta alcançar duas ou três pessoas especiais, só para pedir que fiquem também. Fiquem como os melhores sentimentos ficarão. Fiquem enquanto o que há de bom durar e cobrir o que sobra de ruim. As palavras querem dizer o que ficou preso no ano passado e flutuarem no ar sem culpa. As palavras são de quem andou aprendendo (sem ter aprendido completamente) que força é também paciência, e vice-versa. São de quem esperou muito, a ponto de entender que esperar tanto é perder tempo. São de quem quis exageros até encontrar felicidade em detalhes. São de quem quer ver e ouvir da vida, por mais um ano, o que há de se fazer para viver em paz.

 Flavia Andrade
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