Faço falta em mim. Ando precisando viver em dobro pra disfarçar meu eu pela metade. Falo pouco e durmo menos, sou só um peso pensativo na cama. Não corro nem paro, não ligo nem atendo, só escrevo das oito às vinte e três. Marco compromissos até uma semana antes e desmarco com meia hora de antecedência, guardo a roupa de sair e ligo a tevê. Sinto falta de quem vivia mais que pensava, mas me restaram de imediato só os choros que escapam. Me tornei uma contradição perdida que dá voltas no mesmo lugar, pois não sabe pra quem pedir socorro. Fiquei pela metade porque outra parte está num caminho distante, correndo atrás das pessoas, e do tempo, e dos sonhos que não podem ser esquecidos. Faço falta em mim, nesse quase vazio que sou agora.
Flávia Andrade
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