Dia desses me apaixonei em menos de um minuto num desses transporte públicos lotados, numa dessas tardes rotineiras. Nossos fones de ouvidos se entrelaçaram enquanto eu desembolava o meu e ele girava o dele, de alguma forma casual ambos se juntaram. Desculpa, ele pediu com um sorriso disfarçado de lado. Me beija! eu quis dizer. O engarrafamento atuava como destino e eu torcia para nunca ter fim, para nunca chegar. Mas o trânsito voltou à ação e o motorista não era eu. Se fosse, agora estaria com os pensamentos naqueles fios embolados como se dissessem: se embolem também. Mas a gente não tem chance de se embaraçar, já chegamos aos nossos destinos e estão a mais de vinte quadras de distância. Eu só me encantei num desses amores rápidos dentro de ônibus onde nomes são silêncio. E eu fico aqui me perguntando: carência ou paixão-desvairada-randômica por sorrisos meigos e fones de ouvido entrelaçados com o meu?
Flávia Andrade
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