julho 17, 2015

Depois das onze


    Hoje você está com aquele sorriso triste que é de canto, que te faz olhar para baixo ao curvar um pouco a cabeça. Me bate um aperto, a imagem não me deixa dormir. Está com as palavras monossilábicas guardadas no bolso, tirando uma por uma com cautela, como se o estoque fosse pouco. Coisa de quem sai de casa despreparado, esquece a coragem em cima da mesa e não avisa quando vai voltar. Enquanto anda comigo, vem trazendo segredos de dias atrás que não pode contar em voz alta, só pra não perceber que são de verdade. Acaba escondendo de você também, deixando no fundo da mente e pensando nos problemas menores. Vem guardando choros, gritos e um conhaque para depois das onze. Mas diz que vai me levar. Hoje estarei com um sorriso maior, com os dentes tortos à mostra, para te causar de jeito manso uma calmaria que não consegue ter por si só. Vou falar um pouco mais. Sobre a teoria do big bang, mapa astral e bandas inglesas, tudo o que não sei de cor. Vou parafrasear livros que não existem e cantar músicas inventadas, de qualquer maneira que eu possa te dizer as coisas que você tem medo que eu diga por mim. Prometo, depois das onze vamos ficar bem, hoje já vai passar.


Flávia Andrade

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