agosto 01, 2013

Outono

   "Eu via as folhas caindo das árvores, começavam lentas, mas já sem cor e de repente despencavam de uma vez no chão sem pena. Na verdade, até os pássaros pareciam sem pena. Não havia mais plumas coloridas e diversas nesse mundo. Restavam aquelas de cor ocre como se queimadas e machucavam meus olhos. Minha visão poeta observava as lágrimas nos galhos por perderem seus bens preciosos, cuidava o chão esperando pela sua felicidade, mas ele não se importava com a folhagem velha que apenas o sujava. De repente o mundo se tornou todo aquele amarelado de foto antiga que precisávamos revelar sem saber o que sairia no resultado. Eu não soube mais o que esperar do futuro.
  Ela agia como uma folha caindo e amargamente machucava meu coração. Pois eu havia cuidado-a como um galho cuida de sua flor e não estava preparado para vê-la se soltar de mim. Era isso, aquela menininha havia decidido se libertar de mim, desfazer o nó. Nesses dias ela me gritou:
- Preciso de ar. Meu ar! Não respire ao meu lado, me deixe sozinha. Ar! – E  saiu pra bem longe, voltou só à noite e ignorou que meu ar ainda pertencia na camisa minha que ela vestia.
   Eu era um galho sendo descoberto de todo o verde maravilhoso."

Flávia Andrade
No livro "NATASHA"

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