março 19, 2015

A Desvairada


    Desculpe pelo romance contemporâneo que te fiz adentrar, por te botar nesse imediatismo que chega e vai embora tão de repente que precisaríamos de outro Shakespeare que criasse outro suddenly. Desculpe não ter expressões que se adequem, a tecnologia está impregnando em todo canto e parece que todo o resto é velho o suficiente para não servir mais. Nem os sapatos estão tão válidos, aqueles sapatos de semana passada já estão acabados e nem é assim que chamam hoje. A bateria está acabando e eu ainda não planejei o que dizer, salvei algumas coisas nos blocos de notas, mas não estão se encaixando na conversa que você conduziu, não encontro brechas. Me perdoe por sair do contexto, por ser tão imediato já foi, supere, agora eu tenho que dizer: desculpe, o que eu sentia não sinto mais. Sei que te trouxe até aqui e era mesmo só até aqui que eu queria te trazer. Não quero mais que isso, não quero que fique. Desculpe, quero me desligar, nem quero que se desligue, não quero te descarregar, continue indo bem firme e estático assim, mas eu mudo sempre. Você sabe, eu já confessei, eu mudo sempre, você sabe, até me encho de ênfases automáticas e redundâncias para dizer. Até te faço ouvir a mesma frase tantas vezes, mas de várias formas para ver se entende. É que você ainda está vivendo o ontem e ontem para mim já é o século passado e não me importa. Eu vou embora, mas deixo uns avisos, umas placas e até uns papeizinhos amarelos por aí para você ir lembrando e esquecendo ao mesmo tempo, levando e me deixando. Desculpa pelo romance contemporâneo, nele é tão difícil ser de um só.

Flávia Andrade

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