novembro 16, 2015

Eu, com acréscimo de você.

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Eu não vou falar nada, viu? Até queria ter uma notícia pra te trazer, como avisar que é alguma data especial que você esqueceu, mas acontece que hoje é dia nenhum de importante, e os dias em que te amo não contam pra nada. Eu declaro meu amor com a mesma frequência que você faz café, de manhã e de tardezinha, com fervura e filtrado. Mas, por ora, só quero sentar aqui ao seu lado e não conversar, pois a intenção de hoje não é te fazer feliz, é me fazer completa, é estar no seu aninho.

Eu até poderia tentar narrar uma história nova desse mundo que ninguém ainda te contou, mas só tenho mais do mesmo, como as músicas que só decorei depois que você enjoou e as notícias repetidas que vemos nos telejornais. Eu poderia inventar uma auto-ficção na sua frente para te distrair. Acontece que eu vim até aqui sem ter porquê, e mesmo que eu tentasse inventar uma razão maior, não faria sentido algum. São coisas sentimentais.

Eu andei até tua casa e parei na frente do teu portão, bati palma, disse que passei sem avisar mesmo e que não me importava de não ter nenhuma bebida na tua geladeira. Nem estava com sede, afinal. Fiz pouco caso, como se não fosse um grande acontecimento pra mim. Sentei no teu sofá educadamente, diferente do meu que piso com os pés sujos. Agi desse jeito porque do meu jeito mesmo não dá pra agir, seria difícil aceitar. E agora aqui estou, há mais de quarenta minutos em silêncio com você. Não que isso me deixe aflita ou incomodada.

Eu vejo o quadro próxima da janela, o berimbau e o agogô pendurados na parede branca e o único violão que gosta de tocar no chão escorado na sua mesa de desenhos. Dou risada da sua bagunça espalhada e sinto umas lágrimas beirando os meus olhos, querendo cair, sem vergonha nenhuma. Então, com o rosto ficando molhado, fico constrangida. Disfarço, bocejo, digo que meu sono me causa umas reações estranhas. Você nem liga. Essa mistura de riso e choro é efeito seu, mas tudo bem. Eu estou aqui, aquecida por sua aceitação, por me deixar permanecer nesse espaço, sem me mandar embora.

Eu te ouço falar sobre as contradições da vida, sem saber como o assunto veio à tona. Eu sei que essas coisas não passam, tampouco são esquecidas, mas justo agora? Poderíamos conversar sobre a água em Marte, sobre o retorno de considerações sobre Plutão, sobre qualquer constelação com um nome bonito. Desculpa, eu não faço sentido nenhum e a verdade maior é que aqui por dentro estou ficando um pouco mais louca. Desatenta ao que é comum e fixada nos detalhes mais estranhos, como o seu sorriso meio torto quando me viu, ainda que eu não saiba se foi realmente por me ver. É que em cada estranheza desse mundo, eu tento encontrar qualquer coisa que me diga que fomos feitos para ficarmos juntos. Tenho pouco sucesso.

Você diz que as mulheres sempre são loucas, que elas gostam de te confundir. Eu só quero levantar - sendo louca também, ir para o meio da tua salinha de estar e dançar aquela música que parece a nossa história de relacionamento quase inexistente. Quero dançar pra ver se assim você repara. Mexer os braços e as pernas bem na sua frente, sugestiva. Gesticular de corpo inteiro. Só que assim eu seria descontrolada demais e, tudo bem, nesses últimos meses aprendi a manter um controle disfarçado. É o que parece ou o que deveria parecer.

Eu vejo que os cães e os gatos, os policiais e os ladrões, os cafetões e as putas, as sogras e os genros, os estereótipos e as desconstruções, todos estão em paz. E nós estamos? Pois somos tão opostos quanto todos esses, e somos os únicos que eu não consigo entender. Você não me botou pra fora, mas você não me pediu pra ficar. Eu não te dei todos os abraços e beijos que queria dar e não soube dizer o que queria logo que cheguei. Mesmo assim, estamos parados vendo a vida correr depressa e não nos apressamos. Temos nossos tempos particulares, não olhamos para o relógio. Uma hora nossos quereres, nossos desejos, nossos sonhos podem acontecer.

Eu peço pra botar uma música pra tocar, sugiro até que seja aqueles blues que gosta de ouvir. Não me importo com o que seja, somente que goste. É basicamente o resumo dos meus sentimentos, não é? Não importa o que eu sinta, somente que você goste de mim também. O gostar está implícito nos meus exageros emocionais, está sendo gritado, como apelo do meu corpo e alma, através do que não digo. E, por agora, sem palavra alguma, sou somente eu, com acréscimo de você.

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