setembro 10, 2014

Reconsidera a conversa antiga entre uma bebida e outra. Quanto mais embriagada a cara, mais infernal a lembrança. Aumenta o nível de agressividade no diálogo para ver se com o coração desolado desiste de voltar atrás. Machuca-se propositalmente com a repetição mental de palavras mal ditas, nem tem certeza se foi realmente dito ou já misturou com auto conselho vulgar. Pede a conta, cansa de estar parado, sai do local, anda dezesseis ou dezessete quadras, continua sem rumo, sem resposta, sem coragem, volta para a casa, deita, dorme, amanhece, vai para o trabalho, finge que a vida é só aquilo, anoitece, pensa em desaparecer, imagina a burocracia de deixar tanta coisa para trás, desiste disso também, cansa de tentar fazer algo que mude, volta para a casa, liga a televisão e decide ignorar o tempo. São efeitos de uma pessoa e muitas bebidas, são coisas de qualquer vida alheia.

Flávia Andrade

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