outubro 10, 2014

Repare nos olhos. Nesses olhos que olham para outra direção. Nesses olhos que ficam sem cor quando você chega. Nos olhos que procuram escapatória em outros lados. Olhos que não querem te encarar. Olhos perdidos, mas curiosos. Olhos indecisos, mas ainda ressentidos. Repare nas pernas trêmulas, nas mãos inquietas, repare em todos esses gestos enquanto você proclama mais um discurso e esquece de ir embora. Repare no olhar que procura alguém que me salve. Nesse olhar sem endereço para ir. No olhar que não quer dizer nada, mas se entrega aberto. Repare nos cílios, sobrancelhas, bochechas, repare em toda extensão. Veja que não sou mais a mesma, veja que você me desestabilizou, veja que nesse novo alguém nada (além dos olhos) te reconhece, repare que sua voz pode persistir, seu perfume pode impregnar, mas ainda não sei te ver. Repare nos olhos culpados que já viram tantos risos nossos, repare que eles sentem saudade dos seus. Repare que meus olhos, vez ou outra, fecham uns instantes e lembram dos seus que se fecham quando você ri. Repare que o tempo para se você chega com audácia e encara esses meus olhos cansados, exaustos por todas as lágrimas que você causou. Repare que você é um peso grotesco para olhos tão sensíveis. Repare que se você chegar não pode estar tão próximo, não pode olhar tanto. Repare disfarçadamente, de canto de olho, repare com um olhar roubado esse meu olhar despertencido.

Flávia Andrade

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