março 21, 2015

Desconfortáveis


    Passos desajustados dentro do shopping. Um sorvete na mão direita. Uma sacola com chocolates na mão esquerda. Olhos com lágrimas prestes a despencar. Uma mente tumultuada com lembranças. Passos desajustados dentro do shopping querendo correr para fora, correr até alcançar o carro. Aquele carro que já está em movimento. Dentro do carro pés inquietos. Na mão direita um celular. A mão esquerda se apoia na mochila. Olhos semicerrados pelo sol que adentra o veículo. Uma mente cheia de coisas que fez, não fez e poderia ter feito. Na vida sempre resta um que fica e outro que vai, um que supera e outro que não esquece. Sempre um torto e outro de caminhos certos. Sempre um racional e um emocional. Passos emocionais dentro do shopping. Passos emocionais conforme os dias se seguem. Passos emocionais de um ser emocional à flor da pele. Passos com saudade. Passos que tentam se enganar e dizer que já não sentem mais nada. Para lá do carro, para lá do aeroporto, para lá do estado: passos inquietos de quem sempre tem algo melhor a fazer, que não se prende aos dias que passam. Passos renovados. Mesmo que digam que sentem saudade, não significam. Os passos se contradizem e vão em direções opostas. Aos poucos vão alcançando distâncias tão longas onde não poderão se ver mesmo que olhem para trás. Passos vazios. Passos solitários.

Flávia Andrade

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