março 29, 2015

Finge que nem vê, que eu finjo que não demonstro


    Não repara na mancha de café na minha blusa branca que eu nem comento da minha língua queimada, assim você não vai notar todo o meu desastre logo cedo. Não ando desatenta, só sou um pouco desarticulada em relação ao mundo, só não me encaixo nos espaços certos, estou constantemente fora do eixo e tropeçando. Desculpa não ter tanta postura, isso também serve para me desculpar sobre minha falta de ética às vezes. Além dos tropeços, sou também das trapaças. Além disso, ainda por cima - e eu espero que você não saia correndo antes de ouvir todos os meus defeitos - bebo mais do que devo no fins de semana, encho meu copo no mesmo segundo em que o esvazio, prezo pela cerveja gelada, ai dela se esquentar. Mas não repara na minha voz embargada que eu posso até tentar evitar algumas coisas a serem ditas. Não repara no meu sono enquanto você me leva para casa, talvez eu durma no seu ombro, no seu colo, talvez você tenha que passar a noite. Não repara no quanto eu fico carinhosa nas madrugadas e como acordo correndo, até com atitudes frias, logo cedo para me dedicar à vida independente. Não repara no quanto oscilo em tudo o que faço e em como eu sou. Eu nem sei o que e como sou, nem sei porque sou assim, mas sou... E se você não reparar tanto, eu espero que por algum acaso silencioso você vá ficando cada vez mais, que a gente fique pertinho assim um do outro e não te machucarei com esbarrões, talvez eu nem precise ir embora todo dia, talvez a gente possa dividir um apartamento de um quarto só. Não repara nos meus planos repentinos que eu nem confesso que já os planejei há mais de semanas. Não repara no que aos poucos vou te causando que eu nem digo que você mudou minha vida toda.

Flávia Andrade

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