novembro 20, 2015

A sorte da eternidade

    Somos um pedido de socorro não gritado. Sussurramos no meio da noite com as cabeças em nossos travesseiros, embargando o choro. Do que precisamos é um e outro, um do outro, um no outro, um com o outro; precisamos dessa junção de dois em uma cama pequena ou sofá largo, sem que nenhum de nós implore, no sufoco, por socorro, por sossego, por afago. Nossa eternidade não soa tão boa se estamos abaixo d'água afogando, sabendo que o tempo bom e duradouro está na superfície e só o alcançaremos ao respirar. Precisamos de um ar qualquer ao sair daqui. Batemos nossos braços e nossas pernas e nadamos e nadamos e nadamos, querendo fugir do mar que adentramos buscando águas salgadas que não fossem lágrimas, para que não víssemos as marcas borradas em nossos rostos. Eu te escuto, além da voz repetitiva acusando nossos erros, eu te escuto. Vou emergir e te buscar com as duas mãos, te trazer para o meu abraço outra vez, eu prometo e depois disso, depois de uma longa respiração, de uma tosse que bote pra fora toda a água engolida, toda palavra guardada, todo sentimento contido - um despejo de tralhas -. Quando vier a leveza, meu bem, estaremos juntos como desejamos nesse sono, nesse sonho, nessa sorte nossa.
Flavia Andrade

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