março 11, 2015

A Despedida


    O olhar foge da cama, ignora a cômoda e sequestra a moça. Ela, na frente do espelho, enxergando pouca beleza pela baixa autoestima tenta passar despercebida. Mas ele a olha, faz memórias fotográficas para o sonho de mais tarde, para quando o espaço esquerdo da cama ficar vazio. A despedida é silenciosa enquanto os dois se arrumam, ocorre um beijo estalado no centro do quarto quando se cruzam. Os passos e os braços estão vagarosos em cada movimento para que aqueles últimos minutos durem um pouco mais. As roupas deslizam pelo corpo querendo voar para longe outra vez, mas vão ficando apenas acomodadas. Ao fim, parecem, frente a frente, prontos, arrumados e vestidos enquanto por dentro estão despreparados para a saudade que sentirão. O olhar dele a encara profundamente ainda feliz, o olhar dela desvia todo triste. Eles são, ao mesmo tempo, ternura e lamento. São, juntos, mais do que nunca poderão ser sozinhos. Andam trocando suspiros pelos corredores, alcançam as calçadas, atravessam as ruas. As mãos dadas estão muito mais firmes que a coragem de seguir com os dias que estarão longe, as mãos dadas se aquecem como se pedissem para não mais esfriarem. Os olhares escapam para céus e terras, para todo o clima que os acompanha até ali. Ali onde o último abraço em um longo espaço de tempo acontece. Onde os dois sorriem com custo. Onde ambos sabem que precisam tomar caminhos diferentes. Eles ainda não disseram palavra alguma e não dirão, suas vozes talvez estejam embargadas e o aquecimento dos corpos significam mais do que poderiam dizer. Ao fim, andam para caminhos opostos e sorrateiramente se olham.

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